Capítulo 9 - Um sonho destruído?
BELLA POV
Caos. Essa era a definição das últimas horas. Edward estava em estado de nervos, andando pela casa grudado ao telefone tentando obter informações de Peter. Esme estava na cozinha preparando o almoço mesmo que nesse momento ninguém tinha estomago para comer algo e Carlisle também estava ao telefone conversando com o advogado da família. O pessoal estava todo na sala e a agitação e preocupação estava presente nos olhares de cada um deles.
- Me desculpe filha. Eu não devia ter gritado daquela forma ontem. - Papai também estava aqui. Ele veio junto com Esme e Carlisle após a conversa que tiveram.
- Você não tem que se desculpar, pai. Eu sei que foi muito para absorver e eu entendo sua preocupação. - Ele beijou meus cabelos e olhou para Edward - Eu entendo que nós erramos em não te contar, mas Edward não mereceu escutar tudo aquilo ontem.
Eu fiquei sentida pela maneira que papai reagiu. Nós sempre nos entendemos na base da conversa, dos conselhos antecipados e pela forma como a vida fez com que nossa família amadurecesse rápido demais depois que mamãe faleceu. Eu sei que estávamos errados, mas Edward se redimiu, ele aprendeu com seus erros. Jogar na cara o que foi feito não é a maneira correta de dizer que ele agiu errado.
- Eu vou conversar com ele depois que a poeira abaixar. Eu não quero justificar minha atitude, mas eu sou pai Bella. Você e a Renesme são tudo na minha vida. Só a mera possibilidade de te ver correndo algum risco me deixa enlouquecido.
- Eu sei pai. Mas agora, mais do que nunca nós precisamos do seu apoio. Edward vai precisar de toda ajuda possível.
Nós não tínhamos muitas informações ainda. O que sabíamos é que devido à denúncia anônima a qual foi relatado sobre a prisão do Ed anos atrás, a organização da Nascar mandou abrir uma auditoria na equipe para levantar de onde vem o dinheiro gasto nos carros, salários, equipamentos e até mesmo das contas pessoais do Sr. Thompson.
O mais frustante disso tudo é que nós sabemos quem causou essa situação e o mais preocupante foi o acidente que Peter sofreu. Pela televisão nós acompanhamos o resgate dele e sabemos que ele saiu com vida. Foi surpreendente, pois o carro ficou inteiramente destruído.
- Nós precisamos voltar para LA hoje. - Falei mordendo os lábios e preocupada pela reação do meu pai. Edward precisa de mim e eu não posso deixá-lo sozinho.
- Carlisle e Esme estão planejando se mudar para lá ainda esse mês. - Ele soltou uma lufada de ar franzindo o cenho - Pelo o que eu escutei por alto agora pouco, Duane já conseguiu os seguranças pra vocês. Assim eu fico mais tranquilo, mas isso não significa que você está livre, Bella. Eu quero que me ligue todos os dias e sempre que possível, até essa situação acabar, eu vou para lá e verificar como está tudo.
Eu concordei com ele. Se papai fica mais calmo dessa forma não me custa obedecer a suas vontades. Sem contar que Renesme e eu somos menores de idade. Se do dia para noite ele mudar de ideia nós temos que acatar sua vontade. Isso não significa que eu aceitaria sem uma boa briga.
Para relaxar um pouco os ânimos Esme praticamente nos obrigou a comer algo e o clima pesado ficou mais ameno. Gabi tem o dom de colocar um sorriso em nosso rosto. No entanto ao olhar para Edward eu vi seu rosto cansado e abatido, e isso fez meu humor se igualar ao dele.
Logo depois papai chamou Edward para uma conversa. Eles se trancaram no escritório de Carlisle durante um bom tempo e eu fiquei do lado de fora roendo as unhas. Quando eles saíram de lá Edward pareceu um pouco melhor e isso me deixou mais tranquila.
Á tarde, mesmo cansados, nós voltamos para LA. Edward estava ansioso e queria o quanto antes se inteirar da situação. Nós quase não conversamos durante o trajeto até em casa e eu respeitei seu silêncio. Quando ele estiver pronto para conversar eu estarei esperando. O mais difícil é me sentir inútil porque não havia nada que eu pudesse fazer.
A minha vontade mesmo era de sair atrás do Sam e da laia nojento dele e socar a cara de cada um deles até extravasar minha raiva. Como uma pessoa pode ser tão invejosa e mesquinha?
Na segunda pela manhã Edward acordou cedo e me disse que a equipe chegaria naquela tarde do Texas. Eu queria muito ficar ao lado dele durante todo o dia, mas infelizmente não podia faltar na faculdade e sabia que Dona Estefânia e Chase precisam de ajuda na loja. Dessa forma eu também ocuparia minha cabeça e não pensaria em bobagens.
Eu estava tentando não pensar no pior. No que essa loucura toda irá representar na carreira de Edward. Todos os dias nós vemos casos os quais a mídia leva uma pessoa ao sucesso e ao reconhecimento, mas também vemos que em questão de segundos, ela pode muito bem destruir tudo.
Edward ficou em reunião até tarde com a equipe e na terça de manhã nos apresentou nossos novos seguranças. Se antes não tínhamos privacidade, agora colocar os pés fora de casa se tornou uma verdadeira maratona. Todos estavam famintos por uma explicação, mas fomos orientados a não dizer absolutamente nada. Nós não queríamos alimentar ainda mais esse comércio podre que é a mídia sensacionalista.
Duane tem experiência nessa área e disse que quando a hora certa chegar, Edward podera dar uma satisfação aos seus fãs. O problema é que esse momento parecia nunca chegar e cada dia que passava nós víamos a situação pior.
No decorrer da semana Peter saiu do UTI. Ele havia sofrido queimaduras de terceiro grau na perna esquerda e quebrou o braço também esquerdo, que foi o lado o qual ocorreu a batida e onde o fogo começou. Ninguém entendia até agora o que havia acontecido. Nos replays que apareciam nos tele jornais, Peter parecia perder o controle da direção e acabou jogando o carro, a mais de 230 quilômetros por hora, contra o muro de proteção.
Na sede da Jordan´s os técnicos da equipe trabalhavam em cima do carro para obter informações sobre o que ocorreu. Havia tantas possibilidades... Falha mecânica, falha humana. Mas o que me deixa intrigada ao extremo é isso ter acontecido justamente depois que Sam ameaçou Edward. Seria mera coincidência?
Eu espero sinceramente que sim, porque só de imaginar que poderia ter sido Edward ali...
Com o passar dos dias Edward se fechou ainda mais. Nós conversávamos claro, mas ele não me dizia como realmente estava se sentindo com relação a tudo. Talvez porque ele pressentisse que era só o começo.
E ele tinha razão. De uma hora para outra tudo simplesmente pareceu desmoronar.
A mídia "descobriu" que Edward e Sam foram amigos na época que ele foi preso e aquele filho da mãe, se aproveitando da situação, concedeu uma entrevista se fazendo de vítima e alegando que Edward o havia influenciado. Que ele sabia que Edward era péssima influência e esperava que justiça fosse feita se caso fosse comprovado que a Jordan´s utiliza dinheiro vindo de atividades ilícitas.
Agora Sam era o novo queridinho da mídia e tinha toda atenção para si.
Depois dessa entrevista tudo virou uma bola de neve. Muitos patrocinadores decidiram cancelar contratos promocionais e diversas entrevistas relacionadas a Sprint Cup foram canceladas.
Tudo isso influenciou o desempenho de Edward na pista. Nas corridas de Kansas City, Richmond e Talladega ele não conseguiu alcançar uma pontuação favorável. O peso estava sendo demais.
EDWARD POV
- Foi tudo muito rápido cara. Quando eu percebi o painel entrou em pane e eu não consegui mais controlar o carro. - Peter disse fazendo uma careta ao tentar movimentar seu braço esquerdo.
Eu não podia acreditar que ele está vivo. Quando vi o acidente acontecer diante dos meus olhos, a intensidade do impacto, eu juro que pensei o pior. Mas graças a Deus Peter teve presença de espírito para agir com rapidez e se jogar para fora do carro. Peter é um excelente piloto. Não foi a toa que o Sr. Thompson o contratou como segundo piloto, porém numa situação como essa não importa se você é o melhor ou não. Importa a sorte que você tem e Peter teve muita.
Ele agora já está fora de risco e foi liberado para receber visitas. Todos da equipe vieram visitá-lo hoje e inevitavelmente o assunto do acidente acabou surgindo.
Eu não queria saber o que aconteceu naquela maldita corrida. Na verdade eu queria mesmo é esquecer as últimas semanas. Queria que Peter se recuperasse logo e tudo voltasse ao normal. No entanto isso parece estar longe de acontecer.
A mídia está sedenta por esclarecimentos, mas Duane acredita que esse não é o momento certo para agirmos. Eu confio nele porque sinceramente me sinto perdido nisso tudo. Eu não consigo me concentrar em mais nada e meus sentimentos estão a flor da pele.
Eu me sinto culpado por tudo o que está acontecendo. Por Peter, por colocar em risco minha família e meus amigos, por desapontar a todos.
E é justamente por me sentir dessa forma que não aja mais uma vez de forma inconsequente. A minha vontade era de jogar tudo para o alto e ir atrás daquele filho da puta.
Eu tenho certeza que Sam é o responsável por tudo o que está acontecendo.
Não era para Peter estar naquela corrida. Eu tenho certeza que esse acidente foi premeditado. Minha ida para Forks foi repentina naquela semana e Peter foi anunciado como primeiro piloto no domingo pela manhã. Era para eu estar nesse quarto de hospital e não ele.
Entretanto Sam não é o único culpado. Por causa de um erro meu, de uma escolha errada minha, alguém havia pagado o preço.
Nessas últimas semanas eu desejei todos os dias que o tempo voltasse. Eu daria tudo o que tenho hoje para que eu pudesse tomar decisões diferentes.
Eu agiria com mais maturidade. Pensaria mais. Ouviria mais.
Naquela época eu não pensei no futuro, não pensei se quer no meu bem estar. Não imaginei que uma decisão minha poderia afetar a vida de outras pessoas. Se eu soubesse disso tudo antes eu não teria começado a correr, não teria me envolvido com Sam e não teria tentado chamar a atenção dos meus pais criando um problema absurdo como esse.
Mas agora não adianta chorar pelo leite derramado. Eu tenho que enfrentar o peso das minhas decisões.
Eu tenho que conviver todos os dias com o peso da culpa. Saber que Peter terá marcas em seu corpo que foram causadas indiretamente por mim.
E eu sabia que Sam estava apenas começando. Ele estava uma vez mais conseguindo me detonar. Meu sonho estava sendo destruído.
Agora eu era um criminoso. Não era mais o queridinho da Nascar. Não que eu me importasse com isso. Eu não estava preocupado com minha imagem. Eu não escolhi essa profissão querendo fama, mas querendo ou não minha imagem hoje afeta não somente a mim, mas também a todos que fazem parte da minha vida e da minha equipe.
Sr. Thompson não me deixou na mão em momento algum, mesmo depois de vasculharem a vida dele em busca tais provas ilícitas. A melhor coisa que fiz foi ter aberto o jogo com ele desde o começo. Os advogados da Jordan´s estavam acumulando processos e mais processos e nós não víamos a hora da auditoria terminar. Nós sabíamos que a verdade logo surgiria e poderíamos comprovar a idoneidade da equipe.
Contudo a mídia não está interessada na verdade. Quanto mais suja a notícia melhor para eles. Eles vendem mais revistas e jornais.
Eu estava cansado de ver meu rosto estampado por aí e meu limite se esgotou após a entrevista de Sam na CNN Sports. Depois que os patrocinadores começaram a ligar cancelando contratos e entrevistas serem canceladas. Eu sentia que ia explodir a qualquer momento.
Eu estava presenciando o meu sonho escapar por entre meus dedos.
O que me atormentava era saber que eu não tinha provas concretas para desmentir Sam publicamente. Seria minha palavra contra a dele. O nome de Phillipe se quer foi mencionado nisso tudo e com certeza a grana estava rolando solta para encobrir os fatos.
Em quem as pessoas irão acreditar? Em um garoto que já foi preso por contrabando ou no outro que nunca foi fichado porque sempre teve grana para pagar propina?
Eu tentei segurar as pontas, ser forte e enfrentar tudo isso de cabeça erguida. Até mesmo evitei conversar com Bella sobre o assunto porque sabia que se fizesse isso eu iria desabar. Mas eu precisava dela agora. Era demais enfrentar tudo isso sozinho.
Ao chegar em casa fui direto para o nosso quarto e Bella estava no banho. A nossa cumplicidade é tanta que bastou ela colocar os olhos em mim para saber que algo estava errado.
Sem dizer uma palavra, Bella envolveu seus braços ao meu redor, sussurrando palavras de conforto enquanto eu chorava. Eu chorei todos os medos e anseios, a minha culpa, a minha vergonha e meu arrependimento. Eu precisava colocar para fora essa onda de sentimentos ruins que estavam me sufocando.
Eu sabia que era passageiro. Que possivelmente amanhã toda essa tormenta estaria de volta ao meu peito, mas apenas por hoje eu precisava estar bem.
Na manhã seguinte eu acordei antes que todos na casa. Eu não conseguia ficar na cama rolando de um lado ao outro e achei melhor não incomodar Bella com a minha impaciência.
Preparei algo rápido para comer e decidi sair para uma corrida. Manter meu corpo são faz bem para minha cabeça. Eu vesti um moletom leve e deixei um bilhete para Bella. Hoje é sábado e eu decidi viajar para Darlington para a corrida de amanhã no último vôo do dia. Eu peguei minha carteira, chave do carro e meu boné. Aproveitei para mandar uma mensagem de texto para Alan, meu segurança, para que ele me esperasse no hall de entrada do prédio.
Ao abrir a porta do nosso apartamento me assustei ao dar de cara com alguém parado ali. E qual foi a minha surpresa ao ver a última pessoa que eu imaginei um dia estar diante novamente.
- Tânia?