Capítulo 33 - Revelações Parte 1

"Quantas coisas perdemos por medo de perder." – Paulo Coelho

 

 

ALICE POV

 

 

O último um mês e meio tem sido cheio de grandes acontecimentos um tanto quanto ruins. Minha família ainda continua desestruturada e isso está acabando comigo. Não que eu já não tenha me acostumado com essa situação, afinal meus pais estão “separados” há algum tempo, mas eu tinha esperanças de que um belo dia minha mãe aparecesse em casa e não fosse mais embora e que, as desavenças entre o Ed e o papai acabassem.

 

Após o acidente da Bellinha eu cheguei a cogitar a hipótese deles se acertarem, no entanto isso não aconteceu. Não sei se por orgulho ou por serem dois cabeças duras e não darem o braço a torcer. Eu não posso recriminar meu irmão por não querer dar o primeiro passo afinal de contas ele vem tentando isso desde o dia em que mamãe foi embora. Sim, eu sei de toda estória entre eles. O Ed sempre quis esconder o acontecido de nós dizendo que por causa do trabalho nossa mãe precisava ficar longe, mas como eu sou muito espoleta e detesto ficar de fora dos acontecimentos pedi que Bene me contasse tudo. Ela disse que meus pais haviam brigado feio, só não deixou claro o motivo, e que meu pai expulsou mamãe de casa. Eu ainda era muito jovenzinha nessa época e aceitei isso como uma briga de casal achando que logo eles se acertariam, porém esse logo já dura alguns anos. Eu só não entendo até hoje porque eles não se divorciam e vivem cada um suas vidas. Não que eu queira isso, longe de mim, mas se eles realmente não se entendem mais porque sofrer num casamento que só existe no papel?

 

Algo dentro de mim diz que eles ainda se gostam e que por algum motivo mais forte não conseguem se entender. Papai estava muito mudado nessas últimas semanas. Mostrava-se preocupado conosco, sempre perguntando como estávamos, sobre o colégio, nossos namoros e mesmo depois do final de noite triste do acidente de minha amiga eu e Emmett gostamos muito por ele ter convidado o Jass e a Rose para um jantar.

 

Aquele dia me senti triste por meu irmão e por tudo o que ele está passando. Eu sei que o Ed é forte, mas eu gostaria que estivéssemos todos reunidos fazendo planos para o futuro. A minha maior preocupação com ele é pelo término de seu namoro com a Bellinha. Depois do acidente nós conversamos algumas vezes e era sempre de partir o coração. Ele ama tanto minha amiga que a distância entre eles deixa todos tristes.

 

Eu sempre fui uma pessoa ativa, realmente muito elétrica e impaciente, mas com todos esses acontecimentos esse meu estado só tem piorado. Eu queria muito poder resolver todos esses problemas, no entanto não conseguia encontrar uma solução digamos que efetiva, pelo menos não até aquela segunda-feira.

 

Depois desse dia a impressão que tive foi de que tudo se resolveria e de fato isso estava acontecendo. Bellinha estava voltando ao colégio hoje e eu estava muito feliz pela sua recuperação. A situação entre ela e meu irmão estava confusa. Ele cuidou dela com tanto carinho e dedicação que eu até pensei que ela fosse voltar atrás em sua decisão, porém ela só se distanciou ainda mais dele. Depois que o Ed me contou sobre a viagem que ela fez com o Bruno resolvi descobrir o porquê dela esconder isso do meu irmão. Não que eu desconfie que ela está traindo meu irmão, mas sinto que algo não se encaixa nessa estória.

 

Após o sinal do começo das aulas tocar fui em direção a minha sala para não dar bandeira para o Jass e ele me recriminar por matar aula. Ele é muito certinho. Me despedi dele com um beijinho e assim que cheguei próxima a minha sala, e vi que ele já tinha entrado na dele, corri pelo corredor em busca da sala da minha amiga. Ao chegar próximo à sua sala vi uma cena que me deixou intrigada. Avistei a Lauren e o Alec conversando na quadra de esportes. Na verdade conversando é modo de dizer por que pelos gestos que a Lauren fazia parecia mais é que ela mataria alguém.

 

Curiosa que sou cheguei próximo a eles cuidando para que não me vissem e o que escutei daqueles dois me deixou com muita raiva, mas muita raiva mesmo.

 

            - Aquela nojenta e sem sal da Bella só pode estar brincando comigo, Alec. – ela disse massageando as têmporas.

 

            - Lauren deixa isso pra lá gatinha. Não sei que fixação é essa que você tem pelo Edward. – Alec passou a mão no rosto dela e Lauren se esquivou dele.

 

            - Me deixa Alec. – agora ela andava de um lado para o outro, visivelmente irritada. – Se ela acha que eu estou blefando está muito enganada. Eu vou mostrar pra ela que comigo ninguém brinca.

 

            - Ah é? – Alec riu debochadamente – E o que você pretende fazer? Amarrar o Edward? Se liga Lauren ele não está nem ai pra você.

 

            - Vai se ferrar Alec. – ela mostrou o dedo do meio pra ele. Educada, não? - Eu vou mostrar pra ela a cópia do projeto dele. Ela deve achar que é mentira minha, mas basta ela errar comigo que vendo esse projeto pro primeiro concorrente e acabo com a vida dele. – ela sorriu sardonicamente – Essa infeliz vai se espertar rapidinho.

 

Opa! Espera aí. Projeto? Ela está falando do projeto do Ed?

 

            - Você não devia brincar com isso Lauren. – Alec ponderou e se aproximou dela novamente – Isso que você fez é crime. Se alguém descobrir que você copiou o projeto do Edward sabe muito bem o que pode acontecer.

 

            - Ninguém vai descobrir. – ela passou a mão nos cabelos nervosamente – A não ser que você conte isso a alguém. – apontou um dedo em direção a ele de forma acusatória. – Você tem muitos mais podres do que eu, Alec.

 

            - Gatinha fica tranqüila. – ele riu pegando sua mochila – Agora vamos sair daqui antes que alguém nos pegue matando aula.

 

Assim que os vi se movimentando me escondi na lateral do corredor suando frio e querendo voar no pescoço daquela vagabunda. No mesmo instante a conversa que tive com a Bellinha sobre ela ter terminado com meu irmão veio em minha mente.

 

“Eu... Não queria, mas foi preciso.”

 

Então a Bellinha terminou com meu irmão por causa disso? Essa filha da mãe está chantageando minha cunhada? Ah mais essa garota vai pagar muito caro por ter mexido com a minha família. Ela que me aguarde.

 

Quando cheguei em casa nesse mesmo dia corri para conversar com a única pessoa que poderia me dar uma luz do que fazer sobre isso, meu pai. Eu não entendia muito de tramites legais então fui logo despejando tudo isso em cima dele. Abri a porta de seu escritório e sorri ao vê-lo sentado em sua mesa e contemplando um porta retrato que tem a foto de minha mãe, minha e dos meus irmãos.

 

            - Pai! Precisamos conversar. – eu sabia que ele provavelmente tinha tido um dia cansativo no hospital, mas precisava desabafar tudo o que havia escutado.

 

            - Oi filha. – ele colocou o porta retrato em cima da mesa e eu fui até ele dar um beijo em seu rosto – Tudo bem com você?

 

            - Tudo sim. Ai pai eu preciso da sua ajuda. – falei me sentando próximo a ele. Meu pai me olhou alarmado provavelmente pela expressão de angustia em meu rosto.

 

            - Alice o que aconteceu? Algo com seus irmãos? Ou te fizeram alguma coisa? – eu sorri por sua preocupação.

 

            - Calma, pai. Na verdade é e não é. – ele franziu o cenho sem entender – Eu escutei uma coisa hoje que me deixou estarrecida e preciso que me diga o que fazer. – ele fez um gesto com a mão para eu prosseguir – Eu sei que você e o Ed estão brigados, mas nós precisamos ajudar ele e a Bellinha.

 

            - Filha, seu irmão e eu nós... – eu o interrompi. Minha língua estava coçando de ansiedade.

 

            - Pai você sabe que o Ed e a Bellinha são namorados e por causa de uma pessoa ela teve que terminar com ele. Eu também sei que você não gosta dela e que a situação entre vocês dois é complicada, mas o negócio é o seguinte... – respirei fundo tomando fôlego e continuei - Tem uma menina lá no colégio que conseguiu, não sei como, copiar o projeto do Ed e está chantageando minha amiga pra ficar com ele. Nós temos que fazer alguma coisa pra ajudar os dois. – levei minha mão direita até a boca e comecei a roer as unhas esperando meu pai se pronunciar.

 

            - Alice... – eu encarei meu pai – Vai estragar suas unhas desse jeito querida. – ele pegou minha mão e a tirou de minha boca. Eu sorri sem graça pela minha ansiedade. Meu pai suspirou e ficou me olhando por alguns segundos, mas que para mim pareciam horas. Será que ele não entendeu a gravidade da situação?

 

            - Eu sei de tudo isso filha. – ele disse simplesmente e eu fiquei com cara de interrogação – A Bella pediu minha ajuda quanto a isso ainda quando estava no hospital e eu providenciei algumas coisas a respeito. – Espera... A minha amiga contou pro meu pai e pra mim não? Ah, mas ela vai me ouvir muito depois dessa. Oh se vai!

 

            - Como assim você já sabia pai? Eu sou amiga dela, poxa. – cruzei meus braços indignada. Meu pai riu baixinho provavelmente pela minha atitude mimada e se levantou indo em direção ao seu armário, do lado esquerdo do escritório.

 

            - Alice eu entendo que vocês são muito amigas, mas a Bella estava numa situação complicada. Essa garota que você disse, Lauren o nome dela, certo? – eu assenti – Ela a ameaçou dizendo que entregaria o projeto do Edward para alguém do ramo e acabaria com o sonho dele de pilotar. – eu suspirei e me coloquei no lugar da minha amiga. Não deve ter sido fácil para ela. – A Bella estava desesperada e pediu minha ajuda. Eu sei o quanto bem ela faz ao Edward e... – ele me encarou parecendo ponderar as palavras. Estranho. O que será que meu pai está escondendo? – Eu quero muito ajudá-los. O que essa garota fez é ultrajante e pode ficar tranqüila que estou providenciando tudo para resolver essa situação.

 

Como eu sou curiosa resolvi saber mais sobre isso afinal preciso de todas as armas para ajudar minha amiga e meu irmão.

 

            - Pai me conta o que está fazendo? Eu quero ajudar também. – pedi com minha carinha inocente e que ele não resisti. Ele suspirou rindo da minha cara pidona e pegou um envelope no armário.

 

            - Está bem, mas prometa não contar a ninguém até termos certeza de tudo. – eu assenti quicando na cadeira feliz da vida.

 

Papai me contou tudo o que estava planejando e eu me senti mais aliviada ao saber que em breve tudo se resolverá. Sai de seu escritório pensando em uma vingança maravilhosa contra a vagabunda da Lauren.

 

Durante a semana tentei por diversas vezes conversar com a Bellinha. Eu não sabia se era o certo dizer a ela que já tinha conhecimento de tudo, mas queria apoiar minha amiga. O único problema é que a semana passou voando e nós sempre nos desencontrávamos. Na sexta feira à tarde o Ed me ligou dizendo que precisava conversar comigo e fomos nos encontrar em Port Angeles. Ao chegar à lanchonete que combinamos vi pelo semblante dele o quanto estava abatido.

 

            - Oi Ed. – ele se levantou e me deu um abraço.

 

            - Oi Lice. – eu beijei seu rosto e me sentei a sua frente – Por que está com essa carinha, heim? – apertei sua bochecha o provocando. Eu sei que ele odeia que eu faça isso.

 

            - Precisava conversar com alguém. Já estava angustiado de ficar dentro daquele quarto de hotel. – segurei sua mão esquerda que estava em cima da mesa e tentei passar todo meu carinho a ele.

 

Essa situação entre ele e meu pai é desgastante não somente para eles, mas para toda a família. Eu sempre fui muito grudada com ele, somos confidentes desde pequenos. Não que eu não seja assim com o Emm, mas o Ed e eu temos uma ligação especial, nos entendemos somente com um olhar. Me parte o coração não poder fazer algo para ajudá-lo. Meu pai é muito teimoso e ele também. O que acalentava meu coração era saber que a Bellinha estava cuidando dele e o ajudando a passar por toda essa situação, mas agora sem ela, eu vejo meu irmão fraco e indefeso, implorando por ajuda e alguém para apoiá-lo.

 

            - Eu estou aqui irmãozinho para o que você precisar. – ele sorriu e beijou minha mão que estava sob a dele.

 

            - Quer pedir algo?

 

            - Quero sim. – olhei o cardápio rapidamente e o encarei. Meu irmão deu um sorriso torto provavelmente lendo meus pensamentos – Uma banana split tripla com bastante calda de chocolate. – dissemos juntos e rindo para o garçom, que anotou o pedido e logo se retirou. Quando pequenos adorávamos pedir banana split nos passeios que fazíamos em família. O Emm já gostava de pedir um Milk Shake de baunilha e ficava bravo quando roubávamos um pouco dele.

 

            - Sinto falta desse tempo. – ele disse suspirando.

 

            - Eu também. Adorava os passeios que fazíamos. – ele abaixou a cabeça triste e eu resolvi mudar de assunto – Mas então... Diga-me em que posso ser útil. – brinquei descontraindo e ele se ajeitou na cadeira me parecendo meio... Indeciso.

 

            - Eu andei pensando muito por esses dias Lice.

 

            - Sobre o que?

 

            - Tudo. – ele bagunçou seus cabelos e continuou – Eu refleti sobre algumas coisas e precisava desabafar com você. – Um medo momentâneo tomou conta de mim. Comecei a deduzir do que se tratava e logo fiquei com medo do que ele me falaria. Sempre que meu irmão esteve assim ele buscava fugir de tudo e de todos.

 

            - Você não está pensando em deixar Forks né? – indaguei nervosa achando que ele poderia querer ficar longe de nós novamente.

 

            - Não. Eu sou muito fraco para fazer isso, mas não vou negar que passou pela minha cabeça. – ele suspirou envergonhado - Eu pensei muito no papai, na mamãe e também na... Bella. – meu irmão abaixou o olhar brincando com o guardanapo que estava em cima da mesa.

 

            - Me conte sobre tudo Ed. – pedi ansiosa, como sempre.

 

            - Sabe Lice, eu sei que já fiz muito burrada e que errei ao enfrentar nosso pai. Você sabe que a relação entre eu e ele estava ficando impossível, por causa do comportamento dele e tudo mais, só que nesses últimos dias eu tenho me surpreendido com ele. Eu até pensei na possibilidade de tentar conversar com ele, mas quando você me mostrou que ele ia todos os dias me procurar, eu fiquei com raiva naquele momento. Raiva por ele ser tão fraco e não ter coragem de vir falar comigo, e mais uma vez eu me senti rejeitado. – ele me encarou e prosseguiu – Na última discussão feia que tivemos, a qual ele me mandou embora de casa, teve uma coisa que me disse que me machucou demais, sabe?

 

            - O que ele disse? – perguntei com receio. Meu irmão finalmente estava se abrindo comigo depois de tanto tempo e eu quase chorei por causa disso. Eu não queria demonstrar o quanto isso me feria também e deixá-lo mais triste ainda, então engoli o nó na garganta e esperei que continuasse.

 

            - Eu só queria que ele visse o mal que estava fazendo a nós e a si próprio, nada mais que isso. Eu não me importava se ele não me desse atenção, mas ele tinha sim que zelar por vocês. Ele disse que eu só trazia problemas para ele, que eu era o culpado pelo fim do casamento dele e que só lhe dava trabalho. – ele balançou a cabeça negativamente - Na última briga que tivemos ele me chamou de bastardo, Alice. Pode imaginar como me senti ao escutar isso do nosso pai? – ele me olhou com os olhos marejados – Eu queria encontrar apoio em nossa mãe, mas ela sempre nos deixava. Aparentemente o serviço era mais importante. Até as vezes que nós fomos visitá-la ela parecia distante, como se não quisesse se aproximar de mim. – meu irmão limpou uma lágrima de seu rosto e eu não consegui me conter, comecei a chorar também sentindo a dor de suas palavras – Eu me sinto indesejado por eles, como se não fizesse parte dessa família.

 

            - Não fala assim Ed. É claro que você é parte de nós e eu sei como se senti. Não digo que na mesma intensidade porque nunca tive a mesma coragem que você de enfrentar toda essa situação e os problemas de nossa família, mas eu sinto falta do que éramos. Sinto falta de conversar com nossa mãe e de ter o apoio do papai. Ele ama você Ed. – eu acariciei seu rosto enxugando suas lágrimas - Ele me pediu para não contar isso a você, mas eu quero que entenda que, por mais que ele tenha feito e falado coisas que te magoaram, o ama demais. – eu suspirei e continuei – Lembra que eu disse a você sobre a ajuda minha e do Emmett em sua festa de aniversário? – ele assentiu – Aquilo tudo quem fez foi o papai Ed. Ele queria poder proporcionar isso a você. Foi como um pedido mudo de desculpas. Até mesmo a homenagem, o presente que ele lhe deu foi tudo planejando de coração por ele. – meu irmão encostou-se à cadeira ainda com os olhos marejados parecendo refletir.

 

            - Eu não entendo o porquê dele agir dessa forma. Quando eu presencie a discussão entre eles e o papai expulsou a mamãe de casa, muita coisa passou na minha cabeça, e depois de ouvir as acusações dele, eu realmente me senti culpado por tudo. Eu fiz todas aquelas bobagens Alice, por não ter um apoio, alguém que me orientasse. Eu não vou mentir, queria feri-lo sim. Mostrar a ele que realmente eu era um problema. Eu passei a acreditar nisso e até hoje isso está aqui dentro. – ele colocou a mão no peito e mais lágrimas caiam de seu rosto.

 

            - Você não é um problema meu irmão – limpei meu choro e segurei sua mão a apertando firme – Quem é que sempre esteve ao meu lado e ao lado do Emmett quando éramos pequenos? Quem estava lá para nos acompanhar até o colégio quando o papai não estava em casa? Quem cuidou de nós dois e nos protegeu Ed? – ele sorriu fracamente – Você meu querido. Você. Então, por favor, tire essas bobagens de sua cabeça. Nós não tivemos o apoio de nossos pais, mas tivemos um do outro. É natural a reação que você teve meu irmão, só queria se encontrar por ter acreditado em uma besteira sem fundamento. Você é maravilhoso, lindo, esperto, tem um coração enorme e sempre esteve do nosso lado. Eu sei que o papai errou e nada justifica tudo o que ele lhe disse, mas peço que releve tudo isso. Não vale a pena guardar essas coisas ruins em seu coração.

 

            - Eu sei. A Bella me ensinou isso. – eu sorri – Ela sempre me apoiou tanto Lice, mesmo quando eu não merecia. Eu quero tanto o bem dela.

 

            - Eu sei que sim Ed. – peguei um guardanapo e sequei meu rosto. O garçom trouxe nosso pedido e resolvi desenvolver o assunto com ele – Vocês tem se falado?

 

            - Não. Ela tem me evitado nesses últimos dias. Eu não sei onde errei com ela Alice. Juro que não sei. Eu já quebrei minha cabeça e sinceramente só cheguei a uma conclusão.

 

            - E qual foi?

 

            - Ela não me quer mais. – ele disse suspirando e comendo uma colherada de seu doce. Eu gelei com suas palavras.

 

            - O que o leva a pensar isso? Não fala bobagem Ed. A Bella só... Esta passando por uma fase difícil. – ele me olhou sem entender – Você sabe, o acidente.

 

            - Mas o acidente aconteceu depois que ela terminou comigo. Pode me chamar de louco, mas eu pensei muito sobre nós dois, o fato dela ter terminado comigo sem motivos, a viagem que ela escondeu de mim e agora ter se afastado. Tudo me leva a crer que ela está em dúvida de seus sentimentos. – eu arregalei meus olhos – Eu a entendo. É perfeitamente normal ela se sentir assim, afinal somos jovens e acho que ela se sentiu pressionada ou achou que estávamos indo rápido demais.

 

Minha língua coçou pela vontade de contar toda a verdade a ele. Dizer que ela só terminou tudo para protegê-lo e não porque não o ama, no entanto eu não tinha esse direito. Ainda não era a hora certa. Eu tinha que achar uma alternativa para convencê-lo do contrario.

 

            - Ed presta atenção. – eu respirei fundo – A Bella ama você. Pelo Amor de Deus! Você acha mesmo que ela faria tudo o que fez por você e estar em dúvida do que senti? Eu conheço minha amiga e já te disse uma vez e repito: Ela com toda certeza deve ter ótimos motivos para ter feito o que fez.

 

            - Eu não sei. Pode até ser, mas eu tomei uma decisão. – ele me encarou e pausou um instante. Eu detesto suspense.

 

            - Qual? – indaguei enchendo minha boca de doce e ele riu de mim.

 

            - Eu vou fazer o que ela me pediu. Vou dar o tempo que ela quer e me afastar. Eu prefiro mil vezes vê-la feliz com outra pessoa do que infeliz comigo, Alice. – eu comecei a abrir a boca para xingá-lo, mas ele me interrompeu e continuou – Eu resolvi também que não vou mais correr profissionalmente.

 

             - O QUE? – berrei quase cuspindo o doce na cara dele. Algumas pessoas olharam em direção a nossa mesa e eu pouco me importei por ter gritado – Você está ficando maluco? Vai desistir depois de tudo que fez, Ed?

 

Eu não podia acreditar naquilo. Ah, mas a Bellinha não sofreu a toa para ele simplesmente abrir mão do seu sonho, não mesmo.

 

            - Isso não me interessa mais Alice. Sem a Bella tudo perdeu a graça. – eu me preparei para discutir com ele, mas seu semblante ficou tão triste que perdi a coragem. Eu me coloquei em seu lugar e imaginei o quanto difícil deve ter sido tomar essa decisão. Eles são infelizes separados e isso faz com que todo o resto simplesmente não exista mais. Esse sim é um amor de verdade.

 

            - Eu ainda acho isso errado, mas quem sou eu para dizer o contrário? – eu sorri e desejei que ele entendesse minhas palavras - Sei o quanto ela é importante para você e como ela mudou sua vida, nossas vidas. Eu presenciei tudo de bom que ela te fez Ed e por esse motivo eu afirmo que ela te ama. Pense em tudo o que ela fez, em tudo que ela te disse. Eu sei que ai dentro o seu coração sabe que o que eu falo é verdade, mas eu também entendo que tudo está confuso por hora. Se você acha que essa é a melhor decisão então irei te apoiar. – ele suspirou e eu pude perceber que plantei uma sementinha da dúvida em sua cabecinha.

 

            - Obrigada Alice. – ele segurou minhas duas mãos e as beijou com carinho - Eu acho que domingo mesmo vou falar com a Lauren. – eu fiz uma careta ao escutar o nome daquela lambisgóia.

 

            - Só não se precipite ok? – ele assentiu e eu fiquei matutando em como contar isso para minha amiga.

 

Nós ficamos conversando por mais umas duas horas mais ou menos, lembrando das nossas artes de criança, das trapalhadas do Emm, dos nossos pais. Contei para ele como está meu namoro com o Jass e nos lembramos sobre a prova da Universidade que será na próxima semana. Todos nós iremos para Califórnia fazer o teste, menos a Bellinha que já o fez para tentar a bolsa de estudos. Tomara que até lá tudo se acerte. Pensei enquanto via o entusiasmo dele ao falar do quanto tinha estudado.

 

Sábado pela manhã percebi que meu pai não estava em casa e perguntei para Bene se ela sabia onde ele tinha ido, pois esse sábado ele estaria de folga do plantão no hospital. Ela me disse que ele saiu bem cedo e que só voltaria a tarde e que precisava resolver algo muito importante. Eu não sei o porquê, mas achei que ela estava me escondendo algo. Resolvi deixar para lá e fui praticar um pouco uma nova música que estava ensaiando.

 

À tarde o Jass e a Rose vieram aqui para casa e eu pude namorar um pouquinho. Quando já estava quase anoitecendo resolvemos lanchar e fomos para cozinha preparar algo. Ao descer as escadas me assustei ao ver meu pai chegando e logo atrás dele vinha minha mãe. Não pude deixar de notar que muitas malas estavam na sala e por algum motivo meu coração bateu mais forte.

 

            - Mãe! – corri em sua direção a abraçando apertado.

 

            - Mamis! – Emmett que tinha acabado de chegar à sala a viu e correu também para abraçá-la quase a sufocando.

 

            - Olá meus queridos. – ela acariciou o meu rosto e o do Emm e olhou para o Jasper e a Rose, que estavam parados perto de nós – Como vocês estão? – ela estendeu os braços e Rose veio abraçá-la.

 

            - Muito bem. E você Esme? – ela perguntou dando espaço para o Jass abraçar ela também.

 

            - Agora que estou aqui com vocês estou bem demais. – disse toda sorridente.

 

            - Mãe e essas malas todas? – apontei para elas sem querer parecer insensível. Meu pai que estava próximo a porta de entrada e assistia tudo num silêncio estranho se aproximou de nós e enlaçou a cintura de minha mãe. Eu fiquei surpresa com aquilo e me perguntei o que raios tinha acontecido.

 

            - São as malas de sua mãe Alice. Ela veio para ficar. – ele a virou de frente e acarinhou seu rosto – Espero que para sempre, novamente.

 

            - Mas, vocês dois... Eu... – fiquei sem saber o que dizer. Eles não estavam brigados? Que mal podiam ficar no mesmo ambiente?

 

            - Você não vai mais viajar para São Francisco mãe? – Emmett questionou visivelmente contente por essa noticia. Não vou dizer que não estava feliz, mas sim muito confusa.

 

            - Não meu querido eu vim para ficar. Temos muito que conversar com vocês. – ela disse e olhou para meu pai buscando seu consentimento.

 

            - Como assim? Conversar sobre o que? – questionei e ela sorriu respirando fundo.

 

            - Sobre tudo minha querida, sobre tudo.

 

 

 

(...)

 

 

            - E agora nós estamos aqui crianças. – minha mãe finalizou e olhou para cada um de nós. Eu estava boba com tudo o que tinha acabado de escutar. Juro que me belisquei várias vezes para me certificar se não estava sonhando ou assistindo uma novela mexicana, porque a estória que minha mãe acabara de contar parecia com um dos dois.

 

Me ajeitei no sofá sentindo os olhos de Jasper em mim e uma caricia suave em meu braço, como se quisesse dizer que ele estava ali para o que eu precisasse. Sorri para ele agradecendo por tê-lo ao meu lado enquanto as palavras de minha mãe começavam a fazer sentido em minha cabeça.

 

            - Então tudo isso é culpa do vovô? – olhei para meu pai e ele abaixou a cabeça envergonhado.

 

            - Em partes sim filha, mas eu tenho minha parcela de culpa também. Eu deveria ter acredito em sua mãe, não deveria ter sido displicente com vocês por causa dos meus problemas e...

 

            - Carlisle... – minha mãe pediu sua atenção – Nós dois erramos. Agora o que precisamos fazer é recuperar o tempo perdido. – ela levantou e sorriu para nós de uma maneira nervosa – Se vocês nos perdoarem. É claro.

 

Minha mãe parecia insegura, eu podia ver em seu semblante. Eu estava chocada não vou negar, mas podia ver que tudo não passou de um mal entendido e de mentiras manipuladas. Meu coração ficou pequeno apenas por um momento e foi quando me dei conta de que Ed não é nosso irmão de sangue. Não que isso faça alguma diferença, pois pra mim esse mísero detalhe não quer dizer nada. Ele é meu irmão e ponto, porém automaticamente a lembrança da conversa que tivemos ontem veio em minha mente.

 

“Eu até pensei na possibilidade de tentar conversar com ele, mas quando você me mostrou que ele ia todos os dias me procurar, eu fiquei com raiva naquele momento. Raiva por ele ser tão fraco e não ter coragem de vir falar comigo, e mais uma vez eu me senti rejeitado.”

 

 “Ele disse que eu só trazia problemas para ele, que eu era o culpado pelo fim do casamento dele e que só lhe dava trabalho. Na primeira briga que tivemos ele me chamou de bastardo, Alice. Pode imaginar como me senti ao escutar isso do nosso pai?”

 

“Eu me sinto indesejado por eles, como se não fizesse parte dessa família.”

 

Uma lágrima involuntária saiu do meu rosto e eu me levantei rapidamente. Eu não queria julgar ninguém, sei que não tenho esse direito, no entanto naquele momento eu só pensava em meu irmão e no quanto ele poderia sofrer ao saber de tudo a essa altura do campeonato.

 

            - Vocês deveriam ter contado a verdade a ele. – fiquei frente a frente aos meus pais. Eles me encararam assustados com minha reação. Eu ainda sentia um nó garganta como se tivesse que tirar aquilo de dentro de mim. Parecia que eu precisava fazer isso pelo meu irmão, como se aliviasse sua dor. – Vocês não fazem idéia do mal que fizeram a ele. Podem imaginar como ele se sente por tudo isso que aconteceu? – meu pai veio em minha direção e eu me afastei – Ele se sente rejeitado, um bastardo. – olhei nos olhos do meu pai e seu semblante mudou drasticamente. Ele tinha ciência do que eu dizia, ele sabia que nunca deveria ter dito isso ao meu irmão. – Você o rejeitou pai, disse que ele era um problema em sua vida só por ser filho desse idiota sem coração.

 

            - Alice. – Emmett se levantou e veio ao meu encontro, me abraçando. Meu irmão parecia tão atordoado quanto eu com tudo o que escutávamos, mas eu precisava por tudo para fora. Eu acenei para ele e meu irmão entendeu que estava tudo bem voltando a sentar ao lado de Rosálie.

 

Meu pai estava de cabeça baixa no meio da sala e minha mãe que até então estava de pé, sentou-se com lágrimas nos olhos.

 

            - Não culpe seu pai por isso minha filha. – ela disse baixo entre soluços – Fui eu quem o impediu de contar toda a verdade.

 

            - Esme... – meu pai tentou dizer, mas ela logo continuou.

 

            - Na última briga que tivemos, a qual seu pai me expulsou de casa, ele queria ter contado tudo ao seu irmão, mas eu tive medo. – ela abaixou a cabeça contendo o choro - Eu sei que nada justifica. Sentia raiva de mim mesma por não ter contado toda a verdade a seu pai desde o começo e por ele não acreditar em minhas palavras. Eu queria feri-lo de alguma forma e... – respirou fundo e continuou – Eu disse que se ele contasse a verdade a Edward eu o levaria comigo, sumiria do mapa e ele nunca mais veria seu irmão.

 

Olhei para meu pai e ele chorava em silêncio. Seus olhos buscaram os meus e eu me senti péssima por julgá-lo.

 

            - Eu tive medo de perder meu filho. – disse choroso – Eu podia aceitar o fato da traição de sua mãe que eu acreditei ser verdadeira, mas não conseguia aceitar ter seu irmão longe de mim, assim como nenhum de vocês. – eu inevitavelmente sorri com suas palavras – Edward sempre foi e sempre será meu filho e eu o amei desde o dia em que descobri que sua mãe estava grávida e me queria em sua vida.

 

Se meu irmão soubesse de toda a verdade nada disso teria acontecido, nem a chantagem de seu pai verdadeiro e nem de meu avô, se é que posso considerá-lo como avô depois de escutar essas atrocidades. Saber que papai queria contar a verdade a ele não justifica totalmente suas atitudes. Se ele quis proteger o filho dizendo a verdade então porque o maltratou depois que mamãe o chantageou dizendo que fugiria com meu irmão?

 

            - Então porque o deixou sair de casa pai? – inquiri com raiva - Por que o feriu com palavras? – meu pai suspirou tristemente e meu coração se apertou ainda mais. Eu odiei vê-los chorando, por mais raiva que sentia.

 

            - Eu sei que o machuquei Alice e não me perdôo por isso. Eu estava tomado pela raiva naquela época. Raiva de sua mãe por ela ter esse poder sobre mim, por saber que a qualquer momento ela poderia tirar ele de mim. Imaginei que se ela de fato estava com Joshua, eles poderiam muito bem juntar forças para levá-lo embora. Eu descontei toda a minha frustração nele. Eu desejava que ele fosse meu filho de sangue porque assim nada disso teria acontecido com nossa família. Eu o maltratei por ser fraco e não suportar tudo isso de cabeça erguida sem jogar o fardo dos meus problemas em cima de alguém. Infelizmente eu joguei em cima de quem menos merecia. Do meu menino, que sempre me enfrentou tentando me mostrar o quanto fraco eu sou.

 

Ouvir tudo isso do meu pai doeu em meu coração. Eu queria abraçá-lo e dizer que o entendia, mas a confusão de sentimentos dentro de mim era tão grande que a única reação que tive foi sair correndo dali para o meu quarto. Eu precisava colocar tudo em ordem dentro da minha cabeça para não magoar mais alguém.

 

Eu sei que essa minha atitude foi desnecessária, no entanto agora sentada sozinha em minha cama sentia meu corpo mais leve, como se tivesse despejado tudo de ruim que meus irmãos e eu passamos nesse tempo em que meus pais se separaram.

 

Após um tempo escutei o barulho da maçaneta e olhei em direção a porta do meu quarto. Não queria conversar com ninguém, nem mesmo o Jass, mas se fosse ele tinha certeza que palavras não seriam necessárias, porém a imagem que avistei entrando em meu quarto foi de minha mãe. Ela fechou a porta e caminhou vagarosamente até minha cama. Eu não conseguia olhar em seus olhos. Não porque sentia raiva por saber que ela foi cruel com meu pai, mas por não conseguir compreender seus atos. Eu sei que não devemos julgar as pessoas, mas eu precisava entender seus motivos.

 

            - Filha... – ela começou e me puxou para deitar em seu colo – A raiva muitas vezes nos faz tomar atitudes impensadas e o medo infelizmente se não o enfrentarmos, pode destruir tudo. Quando seu avô contratou aquele investigador e me chantageou com as fotos, ele disse que se eu não me afastasse de vocês daria um jeito de tirá-los de mim. Eu ameacei seu pai da mesma forma e maldosamente joguei na cara dele que Edward não era seu filho verdadeiro, que somente eu tinha direitos sobre ele. Uma tremenda bobagem porque eu sabia o quanto ele o ama e também porque seu irmão é registrado com ele sendo seu pai. Eu estava destruída com toda aquela estória e não pensava mais racionalmente. Seu pai naquela noite decidiu por bem não contar nada, mas seu avô aproveitou seu momento de fraqueza e o jogou contra mim ainda mais. Disse que precisava se armar contra mim. – ela suspirou – Ele consultou um advogado e o mesmo o instruiu a usar as fotos como prova de uma suposta traição e que com isso poderia me proibir de ver vocês. – eu me levantei atordoada.

 

            - O papai te proibiu de nos ver? – perguntei espantada.

 

            - Sim, mas eu implorei a ele que não o fizesse em nome dos nossos bons tempos. Ele concordou, porém estipulou que isso acontecesse somente em datas especiais. – minha mãe acariciou meu rosto e continuou – Nós queríamos nos ferir de alguma maneira para poder esconder o medo, a angústia e a infelicidade diante do acontecido e por isso fizemos escolhas erradas.

 

Eu entendi o que mamãe queria dizer com aquilo e subitamente parei de julgá-los. Todos nós erramos, é humano. Eu e meus irmãos sofremos por isso, mas agora teríamos que usar todo o acontecido ao nosso favor, para nos fortalecer e nos fazer crescer ainda mais.

 

Minha mãe e eu conversamos ainda durante um bom tempo. Eu queria saber como foi para ela enfrentar tudo sozinha. Sim porque independente de como meu pai encarou essa fase, ele tinha os filhos por perto e tenho certeza que isso o fortalecia, por mais que não demonstrasse e também foi por isso que ele sofreu quando meu irmão saiu de casa. A família unida era a sua fortaleza.

 

Naquele instante eu me dei conta de duas coisas. A primeira é de que eu ganhei uma irmã e a segunda foi de que definitivamente eu precisava conversar seriamente com a Bellinha.

 

Como é que essa danadinha me apronta tudo isso e não me conta nada?

 

            - Mãe eu tenho medo do que pode acontecer. – suspirei enquanto ela fazia carinhos em meus cabelos – Tenho medo que o Ed não aceite isso como eu estou tentando aceitar agora. – Minha mãe respirou fundo tomando ciência de minhas palavras.

 

            - Eu também sinto minha querida. Eu tive medo de perdê-lo pela verdade e agora, além disso, tenho medo de perdê-lo por deixar que essa verdade o machucasse demais.

 

(...)

 

Quando mamãe e eu descemos para terminar nossa conversa em família a primeira pessoa que meus olhos avistaram foi meu pai. Ele me olhou com tanto pesar que a única coisa que eu poderia fazer naquele momento era demonstrar que eu estava do lado dele, do lado de minha mãe, dos meus irmãos, da minha família.

 

Antes de chegar até ele percebi que o som estava ligado, talvez uma tentativa do Emm para amenizar o ambiente. Ele sempre fazia isso quando brigávamos e inevitavelmente caiamos na gargalhada pelo seu jeito bobo e brincalhão de ser, apaziguando os ânimos.

 

Minha mãe já sabia que eu a apoiaria com relação ao Ed e eu precisava que meu pai soubesse disso também então, assim que me aproximei do sofá onde estava sentado, estendi minha mão direita em sua direção, o convidando para uma dança. Ele levantou com um sorriso fraco no rosto entendendo o que aquilo significa para nós dois e quando começamos a dançar, no meio da sala de estar, eu automaticamente me lembrei da primeira dança que tive com ele. A mesma dança em que eu soube que poderia contar com ele sempre, e tive certeza de que desse dia em diante nós seriamos uma família novamente.

 

N/A – Essa passagem a Alice conta no capítulo 11.

 

No dia seguinte a primeira coisa que fiz foi levantar bem cedo e acordar meu irmão. O Emmett rogou um monte de pragas em cima de mim por acordá-lo às seis da manhã em pleno domingo, mas quando o lembrei de que iríamos conhecer nossa mais nova irmãzinha ele se animou também. Ontem eu e ele ficamos conversando durante quase toda a noite. Depois que nossos pais foram descansar e o Jass e a Rose foram embora, eu fui para o meu quarto tomar um banho e relaxar e quando fui deitar me deparei com o grandão esticado em minha cama, tomando todo o espaço.

 

            - Emmett seu folgado. – empurrei seus pés – Chega pra lá que eu também quero deitar na minha cama. - Ele resmungou agarrado ao Muxoxo dele, mas se afastou para eu deitar ao seu lado. Nós fazíamos muito isso quando pequenos, mas naquela época cabíamos nós três em uma cama e hoje o Emm ocupa uma sozinho.

 

            - Alicinha...

 

            - Humm...

 

            - Você acha que tudo vai ficar bem? – ele suspirou e colocou o Muxoxo no meio de nós dois. Eu me virei e fiquei de frente a ele. Normalmente quem respondia esse tipo de pergunta era o Ed. Ele sempre dizia: ”Vocês vão ver que tudo vai passar.”, “Não se preocupem que tudo dará certo.”

 

            - Eu espero que sim grandão. Eu espero que sim. – suspiramos juntos.

 

            - Você tem chocolate? – ele indagou apoiando o cotovelo na cama – Com chocolate tudo fica bem. – ele completou e eu sorri. O Ed por ser chocólatra sempre tinha guloseimas em seu quarto e era sempre para lá que o Emm e eu corríamos para dormir quando algo de ruim acontecia. Ele sempre dizia que com chocolate tudo se resolve.

 

            - Tenho sim. – levantei da cama num pulo e fui até a escrivaninha onde tinha algumas barras guardadas. Eu as escondia ali porque precisava me controlar e não devorá-las de uma só vez pela ansiedade, afinal de contas uma dançarina precisa manter seu peso. Pulei na cama fazendo o Emmett chacoalhar e rir e assim passamos nossa noite. Entre lembranças e dando apoio um ao outro.

 

Naquela manhã de domingo, após descermos para tomar café, me surpreendi por ver papai já acordado e ele ficou muito feliz ao ver nosso entusiasmo com relação à Gabriela. Ele nos acompanhou até hospital e eu fiquei encantada com aquele anjinho de cabelos acobreados e olhos verdes iguais aos do Ed.

 

Eu sabia que não seria fácil lidar com tudo daqui para frente, mas eu não mediria esforços para que as coisas se acertassem e, alem do mais, eu preciso honrar meu nome.

 

 Alice Cullen a baixinha mais destemida de Forks.

 

 

BELLA POV

 

 

Essa noite pode ser considerada a melhor da minha vida, no entanto, além de me sentir feliz por Ed e eu termos nos amado pela primeira vez, me sentia também apreensiva pelo que estava por vir.

 

Quando Alice estava me levando para fazenda, talvez para me acalmar, começou a me contar como foi sua conversa com seus pais. Ao ouvi-la falar de sua reação diante de tudo temi pela reação do Ed, talvez por vir a ser igual ou pior que a dela. Ela comentou também que seus pais queriam conversar com ele o quanto antes. Não queriam perder mais tempo e diante do momento de tensão que eu estava prestes a passar fui incumbida de levar Edward até eles.

 

Sinceramente não achei isso justo, mas Alice justificou dizendo que depois de tudo seu irmão talvez não quisesse ir por vontade própria, que também não tínhamos uma desculpa plausível e eu infelizmente tive que concordar com minha amiga.

 

Assim que chegamos à casa do pai do Ed meu coração começou a bater forte no peito e me questionei se o que ia fazer estava certo. Eu tinha ciência de que eles precisavam ficar a sós com o filho e de tempo para esclarecer tudo, então tomei a decisão de deixá-lo sozinho com eles, porém quando estava me afastando e avistei seus olhos me questionando sobre tudo aquilo e cheios de apreensão, me arrependi no mesmo instante.

 

Eu deveria apoiá-lo nesse momento difícil. Eu deveria estar ao lado dele, mesmo que ele me rejeite por saber que escondi tudo. Eu deveria ter dado meia volta e pego sua mão, transmitindo com o olhar todo o meu apoio. Eu deveria... Mas não o fiz. Não o fiz por ser medrosa, o que é irônico nesse ponto da estória, pois se analisar tudo o que já fiz por ele, isso não seria nada, ou melhor, isso seria tudo. Tudo porque eu mostraria a ele que estou ao seu lado independente de sua reação, independente dele não me querer mais em sua vida.

 

Eu respirei fundo e voltei a descer as escadas da casa o mais rápido possível, me xingando por ser fraca e aceitando que querendo ou não, eu teria que conviver com essa minha decisão. Chegando a garagem me dei conta de que não teria como voltar para casa, pois minha caminhonete finalmente ganhou sua aposentadoria após o acidente.

 

Ótimo! Agora eu tenho que ficar aqui e esperar?

 

Parecendo ler meus pensamentos escutei um barulho atrás de mim e avistei Alice se aproximando. Ela sem dizer uma palavra me abraçou forte e eu entendi que ela precisava de mim, mas eu também precisava muito dela naquele instante.

 

            - Eu não tive tempo de agradecer hoje de tarde. – ela disse me soltando do abraço – Obrigada minha amiga. Eu não sei o que seria de nós sem você. – eu abaixei meu olhar envergonhada.

 

            - Eu amo vocês Alice. Vocês são minha segunda família e eu só quero o bem de todos vocês. Me desculpe novamente por não te contar sobre tudo e... – ela me interrompeu.

 

            - Bella eu até fiquei chateada por você não ter me contado, mas depois eu entendi que era o certo. – ela riu baixo – Você sabe como eu falo demais às vezes não é? – ela piscou rindo mais e eu entendi o que ela dizia. Se não tivesse me contado sobre a decisão do Ed de ir conversar com a Lauren provavelmente ele estaria com problemas agora e aparentemente isso era para ficar somente entre eles.

 

            - Eu não sei o que fazer agora. Eu estou com tanto receio Alice. – respirei fundo e continuei – Você me daria uma carona?

 

            - Como assim? Não vai ficar aqui com a gente? – eu neguei com a cabeça – Bella meu irmão precisa demais de você nesse momento. Ele queria vir atrás de você, mas a mamãe disse que logo você estaria com ele. – Escutar isso acabou comigo.

 

            - Eu... Eu não consigo. – suspirei sentida - Só de imaginar ele escutando toda a verdade e saber que escondi tudo dele está me matando, Alice. Eu tenho certeza que ele vai ficar com raiva de mim, então eu prefiro não receber o olhar de reprovação dele.

 

            - Escuta amiga. – ela segurou minhas mãos e eu olhei em seus olhos – Você ama meu irmão ou não? – eu assenti – Ele também te ama, muito. E é por isso que eu tenho certeza que ele nunca faria isso com você. Acorda Bella você é a responsável por tudo isso.

 

            - Eu sei. Eu pensei nesse momento por diversas vezes e sempre disse para mim mesma: ”Você vai ficar ao lado dele”, e agora olha só... – eu bufei – Dei as costas pra ele.

 

            - Porque não fica aqui? Dormi no meu quarto. Pela manhã tenho certeza que se sentirá melhor.

 

Eu poderia dizer: “Tudo bem Alice”, mas não. Droga de medo idiota!

 

            - É melhor não. – ela suspirou e eu pensei que fosse ficar insistindo até que eu aceitasse, bem no estilo Alice de ser, mas me enganei.

 

            - Tudo bem. – ela soltou minhas mãos e pegou as chaves do carro no bolso de trás da calça, ativando o alarme em seguida. – Eu te levo para casa.

 

Eu agradeci com um aceno respirando tranqüila por não ter que encarar toda essa situação e entrei no carro. Após alguns minutos em silêncio resolvi quebrar o gelo.

 

            - O que você achou da Gabi, de verdade? – ela sorriu. Alice já tinha me contado sobre a visita que fizeram a ela pela manhã, mas mal tivemos tempo de conversar seriamente sobre isso.

 

            - Ela é linda Bella. Não vou negar que fiquei comovida por vê-la naquele hospital, mas o papai contou sobre o transplante dela. Tenho certeza que ficará bem.

 

            - Você acha que o Ed vai recebê-la bem?

 

            - Não sei.

 

            - Você acha que ele vai perdoar seus pais?

 

            - Não sei. – ela respondeu suspirando.

 

Eu queria tanto respostas mais concretas do que não sei, mas não podia cobrar nada da Alice, afinal de contas isso também está sendo complicado para ela. Enquanto pegávamos a estrada principal me dei conta de uma coisa. Se o Edward não aceitar bem tudo isso e me mandar paras as cucuias eu não suportaria ficar longe dele.

 

Eu sei que teria que aprender a viver sem ele. Durante todo esse tempo eu pensei nas possibilidades do que poderia vir a acontecer entre nós dois e aceitei o possível fato dele me odiar por esconder tudo, mas meu coração está dividido entre a esperança de que tudo se acerte e a dúvida da rejeição pelas mentiras. Hoje o sentimento de duvida estava prevalecendo e por esse motivo tive uma idéia. Se amanhã ele quiser nunca mais olhar na minha cara, pelo menos essa noite eu gostaria de estar perto dele, de uma forma ou de outra.

 

            - Lice, você poderia me levar para o hotel em que o Ed está hospedado? – ela me olhou rapidamente franzindo o cenho, mas logo vi um sorriso de canto brotar em seus lábios.

 

            - Ok. – ela respondeu simplesmente.

 

Ao chegar próximo do hotel o silêncio entre Alice e eu era desconfortável e eu não queria ficar assim com minha amiga.

 

            - Me desculpe por agir assim. – ela estacionou o carro e assim que o desligou se virou para me olhar.

 

            - Bella... Se eu estivesse em seu lugar talvez agisse da mesma maneira. Veja, não entendo essa sua decisão como uma fraqueza e sim como uma proteção. Tudo o que você fez foi pensando no próximo sem ao menos se importar consigo mesma. – ela sorriu e eu também - Você poderia ter sido expulsa do colégio, poderia ter morrido por uma banalidade, mas você não desistiu mesmo sabendo de todos esses riscos. Você abdicou do amor por querer ver a felicidade alheia e isso é a maior demonstração de valentia que já vi na vida. – Suas palavras me emocionaram tanto que não consegui conter o choro. – Você já fez tanto por nós amiga que agora é a nossa vez.