Capítulo 1
Edward corria sem olhar para trás. A única coisa que o jovem rapaz pensava naquele momento era fugir para bem longe de sua vida e a sensação gostosa de liberdade que o vento trazia devido sua corrida rápida e arfante. Era uma sensação falsa de liberdade, ele sabia muito bem, no entanto essa sensação era melhor do que o obscuro em que vivia.
Sua corrida tinha um destino certo. Um parque afastado do Brooklin próximo ao lado nobre da cidade. Edward ia sempre ali para fugir de tudo, esquecer de sua vida por algumas horas e refletir. Naquela tarde em especial precisava esquecer o que viu mesmo sabendo que esquecer não mudaria nada. Não tinha mais esperança de ter uma vida diferente. Ele estava fadado ao seu destino.
– Destino de merda. – Edward resmungou ao sentar-se em um banco próximo ao lago do parque, o qual ficava toda vez que ia ali. – Esperança do que você tinha? Que alguém viesse te resgatar e te dar uma vida melhor? – ele continuou a resmungar enquanto tentava acalmar a respiração arfante por causa do esforço físico.
Edward Mansen tinha sonhos quando ainda era um garoto feliz ao lado de seu pai e sua mãe, entretanto tudo mudou de uma hora para outra. Ele perdeu seu pai aos oito anos e viu sua mãe se acabar por causa da perda. Quando sua mãe, Renne, finalmente conseguiu se reerguer lhe deu a pior noticia de sua vida. Ela casaria novamente.
Quando conheceu o padrasto o corpo inteiro de Edward se arrepiou pela feição do homem que o chamou de “filho” na primeira vez que visitou sua casa. A principio ele não entendeu porque sentia-se dessa forma e quando se deu conta era tarde demais. Aquele homem trouxe desgraça à vida de sua mãe e à sua. Ele viu Renne se definhar aos poucos novamente, sofrendo por ter permitido que Phil tomasse conta da vida dos dois. Seu padrasto no começo era gentil, companheiro, um excelente marido, porém com o tempo foi mostrando sua verdadeira face.
Por diversas vezes presenciou sua mãe o defender de Phil quando aprontava alguma coisa e o resultado disso o deixava devastado. Eram dias cuidando de sua mãe e sempre o medo estava presente. Medo que Phil tirasse a única felicidade restante em sua vida.
Ele rezava todas as noites. Pedia ao seu pai, Félix, que os protegessem onde quer que ele estivesse, mas suas preces não foram atendidas. Ele viu sua mãe morrer diante de seus olhos. A partir daquele dia soube que estaria sozinho e o medo se tornou seu companheiro durante esses cinco anos. Phil se aproveitou do momento de fraqueza de sua mãe enquanto ela estava dopada pelos medicamentos que tomava para depressão, e a fez assinar alguns papéis que lhe dava pleno direto sobre os bens que seu pai deixará para eles. Não eram muitos. Não tinham uma vida abastada, mas conseguiam viver uma vida digna.
Phil não queria um “filho” para criar e Edward não tinha com quem ficar ou a quem recorrer. Seu padrasto depois do acontecido viu em Edward uma oportunidade de negócios. O jovem rapaz foi intimado a prestar favores a Phil para continuar morando naquela casa e Edward, sem ter para onde fugir, se submeteu a acatar as ordens de seu padrasto.
Até os doze anos ele não tinha noção do que fazia. Até que não era tão ruim fazer o que Phil mandava. Ele freqüentava o colégio pela manhã e a tarde Phil o mandava fazer entregas. Edward pensava naquela idade que o que fazia para o padrasto era igual a um serviço de Office boy, mas o garoto mal sabia o que transportava naqueles malotes embalados. Phil deixava o menino estudar para manter a aparência perante os vizinhos, ele não queria e nem podia chamar atenção. Edward com seu ar de inocência passava facilmente pela segurança de alguns lugares, ele era sua galinha dos ovos dourados, pelo menos até enquanto lhe fosse útil.
Um pouco mais velho Edward descobriu o que era seu “trabalho”. Ele não era nenhum ignorante. Por mais que sua mãe não estivesse ali para ensinar as coisas da vida, ele aprendia muito no colégio, nas ruas do subúrbio onde morava, nos lugares que precisava freqüentar para Phil e conversava bastante com seus amigos. Na verdade ele tinha um único amigo, daqueles que você pode confiar até mesmo sua vida. Emmett Hale apareceu como quem não quer nada na vida de Edward. Até hoje ele ri ao lembrar-se de como se tornaram amigos.
Edward estava sentado no banco do pátio do colégio. Ele normalmente fazia suas refeições no intervalo das aulas sozinho, então procurava sempre levar alguns de seus gibis para ler. Enquanto abocanhava seu sanduíche e dividia sua atenção entre mordidas e a luta do imbatível Batman contra o sinistro Coringa, seus olhos avistaram um rapaz gordinho sentado na mesa à sua frente, encarando seu sanduíche como se fosse água no deserto do Saara. O menino gordinho percebeu que Edward agora o olhava e abaixou a cabeça envergonhado. “Será que ele não trouxe nada para comer?” Edward se perguntou deixando seu lanche de lado. Ele pensou por alguns minutos e se levantou.
– Você quer dividir o lanche comigo? – Edward perguntou ao menino gorducho, sentando à sua frente e trazendo consigo a última edição do Batman. Os olhos do outro menino brilharam e ele até salivou na ânsia de experimentar aquele sanduíche.
– Sabe, minha mãe me proibiu de comer no colégio. – o menino suspirou e trocou seu olhar do lanche e buscou os olhos de Edward – Ela disse que estou muito acima do meu peso e por isso me proibiu de trazer algo pra comer no intervalo. Eu não me acho gordo, eu sou forte. – O menino disse enquanto levantava os dois braços mostrando seus bíceps rechonchudos a Edward. – Quando crescer vou ficar mais forte ainda.
Ele sorriu para o menino a sua frente achando divertida a cara de super fortão que ele fazia e mal sabia ele que as palavras de seu amigo se tornariam realidade. “Um garoto desse tamanho não pode ficar sem comer nada.” Ele pensou achando injusto sua mãe o privar de uma alimentação.
– Quer saber, eu não estou com tanta fome assim. Pode comer meu lanche inteiro se quiser. – os olhos do gorducho brilharam - A propósito... – ele estendeu sua mão para o menino, num ato cordial e fora do costume dos garotos de sua idade, mas que foi um ensinamento de sua mãe que nunca seria esquecido – Eu me chamo Edward.
– Puxa sério que eu posso comer tudinho? – Edward lhe alcançou o sanduíche e o menino sem rodeios o abocanhou como se tivesse ficado dias sem comer algo – Meu nome é Emmett – continuou ele de boca cheia e estendeu a mão suja de maionese para cumprimentar Edward.
O mesmo limpou discretamente sua mão após o cumprimento, achando o novo amigo engraçado e um tanto quanto atrapalhado.
– Nossa! Essa é a última edição do Batman? – Emmett perguntou limpando a boca com a manga da blusa de moletom. Edward riu dos hábitos nada limpos do garoto.
– É sim. Eu terminei de ler. Se quiser posso te emprestar. – Aquela era umas das últimas edições que sairia naquele ano, a tão esperada luta entre o Batman e o Coringa e que com toda certeza teria um lugar cativo na coleção de Edward, mas ele não se importava de emprestá-la ao novo amigo. “Mas ele teria que limpar suas mãos sujas de maionese antes.”
– Puxa cara você é muito legal. Não que ir lá em casa hoje jogar vídeo-game? – Emmett botou para dentro o último pedaço do sanduíche e sem cerimônias tomou um gole do refrigerante de Edward – Eu ganhei do meu pai o Donkey Kong no meu aniversário. – ele coçou a cabeça e olhou para o amigo aguardando sua resposta.
Pelo impulso Edward quis dizer que sim, mas a realidade lhe caiu como um soco no estomago. Ele não podia se dar ao luxo de ir a casa de Emmett. Tinha suas obrigações e sabia muito bem qual seria sua punição se não as fizesse.
– Eu... Eu não posso. – ele abaixou a cabeça e suspirou sentidamente, lembrando o quanto queria que sua vida fosse diferente. Ele queria poder ser uma criança normal.
– Por que não? Sua mãe não deixa? – Emmett insistiu. Ele gostou muito de Edward e também era solitário. Todos da sua classe o chamavam de gorducho, baleia, rolha de poço assim que o conheciam, mas Edward não o fez e inclusive lhe deu seu sanduíche. Esse não foi o motivo principal, no entanto se ele quisesse dividir seu lanche todos os dias, Emmett não se importaria nem um pouco.
A lembrança de sua mãe fez Edward ficar triste. Raramente ele conversava sobre isso com alguém, ou melhor, ele nunca falava sobre isso.
– É, ela não deixa. – respondeu ele.
Depois daquele dia os dois meninos se tornaram grandes amigos e hoje Emmett se tornou uma parte feliz e essencial da vida de Edward. Os momentos que eles compartilham juntos é o que o mantêm são para não cometer alguma loucura e dar um fim nessa vida de merda que ele tem.
Edward estava sentado naquele banco pouco mais de uma hora, mas o silêncio e a paz que sentia ali lhe davam impressão de ter ficado horas olhando para aquele lago. A lembrança do acontecido fervia em sua cabeça e o rosto daquele homem não seria esquecido jamais.
Naquele começo de tarde ele foi fazer uma coleta num dos fornecedores de Phil e levaria a mercadoria para uma residência que já lhe era muito familiar no subúrbio do Brooklin. Já tinha ido aquele lugar por diversas vezes, porém toda vez que entrava ali um calafrio tomava conta de seu corpo. A fachada do local enganava muito bem. Quem olhasse não suspeitaria que ali funcionasse o maior ponto de drogas da região. Após deixar Demetri o aguardando dentro do carro ele entrou no local passando por um extenso corredor, avistando um homem parrudo parado em frente à porta. O homem que era um dos seguranças do lugar foi logo revistando o rapaz. Ninguém entrava ali armado, a não serem os chefes, entre eles Phil.
Edward entrou sem problemas, afinal nunca tinha pegado em uma arma e nunca o faria, mas há quem diga: “Nunca diga nunca”. Ele estava naquela situação por não ter alternativa. A dor que carrega dentro de si é muito pior do que as situações que precisa conviver em seu dia a dia.
Ele tinha conhecimento do que carregava naquele malote. Cocaína. Da mais pura. Toda terça ele a levava até aquele antro, pois seria fornecida para os clientes muito estimados de Phil. Como ele dizia: “É a elite, Edward”. Ele estava pouco ligando para o que Phil fazia com aquilo, queria sair dali o quanto antes, porém a idéia de seu padrasto naquele dia era outra.
Assim que avistou o jovem, Phil pegou o malote de suas mãos, o abriu com uma faca e com o dedo indicador experimentou um pouco da droga, esfregando o pó nos dentes.
– É da boa. O Laurent realmente não me decepciona. – ele entregou o pacote para um homem alto que trazia consigo uma arma presa a cintura e que olhava Edward de esguelha.
– O garoto é de confiança? – indagou o homem para Phil colocando a mão esquerda em cima da arma.
– Esse aí? Claro que sim meu chapa. Esse meu garoto é de ouro. – Phil disse aplicando uma gravata em Edward, fazendo o menino reagir e se desvencilhar rapidamente.
– Eu já vou. – Edward sibilou olhando para Phil com raiva.
– Você ainda não terminou seu serviço rapaz. Só vai embora quando eu mandar. – Phil comunicou enquanto acendia seu charuto – Tenho um serviço pra você.
– Eu já fiz meu trabalho. – retrucou Edward olhando para Phil enquanto o mesmo engatilhava sua arma e a coloca na cintura.
– Eu que digo quando seu trabalho estiver feito, moleque. Você já está na idade de aprender algumas coisas do meu trabalho. – Phil fez um aceno de cabeça para o homem alto, que se aproximou de Edward o segurando firmemente pelo braço. – Você é muito lucrativo para mim fazendo entregas, mas tem que servir para algo mais. Eu vou te ensinar como a vida pode ser muito cruel, moleque.
– Me solta. – Edward rosnou para o homem alto se lixando para o que poderiam fazer com ele por sua petulância. Ele só pensava que precisava sair rapidamente dali, ele tinha que sair dali. Seu trabalho estava feito, não entendia o que mais Phil poderia querer com ele.
– Leva ele. – Phil ordenou para o homem que segurava Edward e o mesmo o arrastou para fora daquela sala, passando pelo corredor da entrada e se direcionando para os fundos daquela residência.
Percebendo para onde estava indo Edward começou a respirar com dificuldade. Ao lado da porta que dá para os fundos avistou uma escada e logo desceram para o porão daquele lugar sujo.
Quando desceu o ultimo degrau foi empurrado pelo homem que quase esmagara seu braço e por pouco não caiu e se machucou. Edward nunca tinha ido naquela parte da casa e ao analisar a saleta começou a suar frio. Ali tinha uma maca hospitalar, uma pia e passou seus olhos rapidamente por um armário que estava aberto, expondo armas e outros objetos que ele não fazia idéia para o que serviam.
– O que você quer me trazendo aqui? – perguntou a Phil enquanto o mesmo se direcionava ao armário aberto. Ele tirou sua arma da cintura, desengatilhou e pegou uma arma um pouco maior, colocando uma espécie de pino na ponta da mesma.
– Você já vai saber rapaz. – Phil ficou de frente para ele, deu um sorriso e apontou a arma para sua direção – Nós vamos no divertir.
Edward sentiu medo ao escutar aquilo. Demetri uma vez insinuou a ele o que acontecia ali, mas o jovem rapaz não deu bola para seu comentário. Quanto menos soubesse melhor seria, pensava ele. O velho Demetri era um dos poucos homens de confiança que trabalhavam para Phil. Edward tinha estima por ele, sempre o tratou bem e por incrível que pareça era uma referencia de homem para ele. O velho era quem o levava para coletar e fazer as entregas, afinal o garoto não tinha idade para dirigir. Seu carro, uma Mercedes Coupê, passava despercebido pelos bairros nobres de Nova Iorque e isso facilitava muito, pois a maior parte das entregas que Edward fazia era nesses lugares. Residências de alto nível, conjuntos empresarias de alto padrão.
Demetri sentia pena de Edward e pela sua situação. Ele sabia que o garoto não gostava de estar ali, no entanto ele tinha conhecimento do que Phil é capaz de fazer e se ele perdesse seu garoto dourado, alguém pagaria por isso e ele temia pela vida do jovem. Não tinha como tirar Edward daquela porra de vida, mas prometeu protegê-lo de tudo, inclusive das loucuras de Phil.
Edward percebeu uma movimentação às suas costas e quando se virou tremeu pela cena que viu. Um homem amordaçado, com as mãos amarradas e com hematomas pelo rosto estava sendo arrastado pelos cabelos pelo comparsa de Phil e ele sentiu medo, muito mais medo do que o habitual. O homem alto e que traçava um sorriso sardônico no rosto fez o homem amordaçado se ajoelhar no meio da saleta, lhe dando uma coronhada na cabeça.
– Esta vendo esse homem aqui Edward? – Phil o encarou soltando uma lufada de fumaça e abaixando a arma que continuava apontada para o garoto – Ele está me devendo dinheiro. E sabe o que acontece com quem me deve? – ele indagou sadicamente esbofeteando o rosto do homem ajoelhado.
Edward assistia tudo aquilo sentindo o coração bater mais acelerado. Ele pensou em sair dali correndo, mas com certeza Phil o traria de volta. O que aquele infeliz poderia querer com ele? O que ele faria com aquele homem ajoelhado?
– Então moleque? Vai ficar parado ai me olhando igual uma mulherzinha? – Phil riu dos olhos arregalados de Edward e posicionou seu charuto num cinzeiro, que estava em cima da pia, e se aproximou do homem ajoelhado que agora implorava por sua vida. – Ah agora você quer viver, seu merda? – ele destravou a arma com único movimento e apontou para cabeça do seu até então negociador de drogas.
O homem que ali estava havia feito um trato com o chefão rival de Phil, trocando a mercadoria boa por uma droga misturada e passando informações das negociações ao bando de Aro, fora a dívida de seu próprio vicio. James ficou muito descontente com isso e ele pagaria por esse ato naquela tarde.
– Vem aqui moleque. – Phil ordenou a Edward, mas ele não se moveu – O que esta esperando? – dando três passou ele pegou o rapaz pelo braço e o fez ficar frente a frente ao homem amordaçado. – Você quem vai fazer esse serviço hoje e muitos outros que virão. – esticou a mão que carregava a arma e a ofereceu a Edward.
Olhando para aquela arma Edward entendeu o que Phil queria. Seu padrasto mataria aquele homem e quem puxaria o gatilho seria ele. Edward sentiu o suor escorrer por sua testa e suas mãos suarem frio.
– Eu não vou fazer isso. – Edward soltou num único fôlego não sabendo de onde tirou forças para dizer aquilo. Ele tinha ciência do que poderia acontecer mediante este ato, mas jamais tiraria a vida de outro ser humano.
Phil poderia espancá-lo até a morte, como já quase o fez, mas nunca o faria sujar suas mãos de sangue. Ele se lembra da primeira vez que Phil se descontrolou. Foi quando descobriu o que fazia para ele. Edward se sentiu sujo, com nojo de si mesmo. Nojo da vida que tinha e do que foi obrigado a fazer. Enfrentou Phil aquela noite dizendo que não trabalharia mais para ele e que fugiria de casa.
– Moleque petulante. Você sabe com quem está falando? Se não sabe vai aprender agora. – Phil partiu para cima dele e Edward tentou se defender de todas as formas possíveis, mas ele era menor e mais fraco do que Phil.
Foi Demetri quem cuidou de Edward naquela noite e para encobrir a agressão o garoto faltou à aula durante duas semanas. Depois de ver o jovem rapaz naquele estado Demetri criou coragem e enfrentou Phil, se arriscando a levar um tiro na testa. O filho da puta estava tão bêbado na noite que agrediu Edward que nem se lembrava do que havia feito no dia seguinte, alegando que o menino havia se envolvido numa briga de rua. No entanto ele lembrava-se da promessa que fez a Demetri, um dos seus melhores homens, o qual confiava plenamente. Phil permitiu que ele cuidasse de Edward, mas só o deixaria em paz se fizesse o garoto continuar com seu trabalho.
Até aquele momento seu padrasto o deixava de fora do serviço sujo. Por mais que ele odiasse o garoto, por fazê-lo se lembrar de sua mãe, Edward era valioso e sabia que Demetri estava cumprindo com sua palavra depois de acalmar a rebeldia do moleque.
Phil tem clientes que só compram sua mercadoria se Edward for o entregador. Ele mantinha as aparências mediante os compradores da alta sociedade. Não podia negar, o rapaz era bem afeiçoado, educado e tinha modos. Pelo menos para alguma coisa sua mãe prestou. Ninguém gostaria de receber um viciado maltrapilho e dar chance para falatórios. Mas Phil acha que Edward tem que aprender que a vida não é fácil e para manter a vida boa que leva, fará o que ele mandar.
O padrasto do garoto apontou a arma recusada para a cabeça de Edward mais uma vez. Ele já lidou com viciados malcriados antes e lidar com um garoto de quinze anos para ele era fichinha.
– Pega essa porra de arma logo moleque, antes que eu te mande pro inferno. – ele encostou o cano da arma na testa de Edward e o jovem engoliu seco. Por que Demetri não estava ali? Ele disse uma vez que sempre cuidaria dele.
Com medo do que poderia acontecer e sabendo da reputação que Phil tinha Edward estendeu a mão tremula em direção a ele. Seu padrasto sorriu vitorioso e colocou a arma na palma de Edward. Por pouco ele não derrubou a mesma no chão de tanto que tremia. Seu coração batia tão forte que poderia sair pela boca.
Edward ainda com a arma na palma da mão olhou para baixo em direção ao homem ajoelhado e seus olhares se cruzaram. Ele nunca esqueceria aquele olhar de piedade do homem que implorava pela vida. Phil o sugou para aquele merda toda, mas não tiraria sua integridade, jamais. Num ato bravo, mas que foi entendido como fraqueza por Phil, o rapaz deixou que a arma caísse ao chão.
– Não vai me obrigar a fazer isso. – ele rosnou para Phil com a pulsação a mil.
– Você vai fazer isso moleque, uma hora ou outra. – seu padrasto disse rindo - E como eu estou bonzinho hoje vou te dar uma chance de apenas assistir. – Phil agachou e pegou a arma do chão - Hoje à noite eu espero que esteja no Taj no horário habitual ou sofrerá as conseqüências. – em segundos Edward ouviu em estampido fraco e o estrondo seco do homem ajoelhado caindo morto ao chão com um tiro na cabeça.
Ele agiu por instinto. Saiu daquela saleta sem nem olhar para trás correndo o mais rápido que podia. Tinha presenciado um assassinato. No que ele tinha se tornado? Isso fazia dele um bandido? Não, mas foi conivente. Que porra ele poderia ter feito? Para quem pediria ajuda?
– Quer que eu vá atrás dele? – o comparsa de Phil indagou olhando para os degraus daquele porão.
– Deixe esse viadinho correr. Ele ainda vai me pagar por isso e eu sei muito bem como lidar com ele. Limpa essa merda toda que eu tenho que sair. – Phil disse guardando a arma no armário enquanto terminava de fumar seu charuto – James ficara contente em saber o que aconteceu aqui. – disse por fim, saindo daquele porão que fedia.
Edward respirou fundo. Sua cabeça trabalhava a mil. Ele tinha que pensar num jeito de fugir daquilo tudo.
– Ei garoto! Onde pensa que vai? – Demetri questionou ao ver Edward sair daquela residência correndo. Eles tinham combinado que saindo dali ele levaria o menino até a casa de Emmett e depois para o Central Park. O velho ficou confuso e resolveu entrar naquela pocilga para ver que porra tinha acontecido.
O jovem rapaz fechou os olhos. Escutava apenas o barulho das folhas, alguns latidos de cachorros e os pássaros cantando. Sua paz interior havia voltado. Ali ele podia se imaginar vivendo uma vida diferente.
Ainda de olhos fechados sentiu um cheiro suave pairando no ar. Ele não soube distinguir o que era, mas deduziu ser bom.
– Isso vai parecer prepotente da minha parte, mas... Esse banco me pertence. Pelo menos a essa hora do dia. – ele abriu os olhos assustado e percebeu a figura de uma moça sentada ao seu lado. – Você aceita um cigarro? – ela ofereceu lhe estendendo uma carteira de cigarros e Edward negou com a cabeça. A jovem deu de ombros, acendeu um e deu uma longa tragada.
Edward parou para analisar o que ela havia tido. Reparou nas roupas que vestia e a comparou com as várias clientes de Phil, patricinhas da nata de Nova Iorque. Quem essa patricinha de bosta pensa que é para se achar dona de algo? E ainda mais do banco que pertencia a ele. Tudo bem que ele não costumava ir ao Central Park naquele horário do dia, mas aquele era o seu lugar de paz e aquela patricinha não tiraria a única coisa que ele podia chamar de seu.
– E que porra de direito você acha que tem sob este banco? Que eu saiba esse parque é público. – retrucou ele carrancudo e olhando em direção a moça. Ela buscou seus olhos e sorriu para expressão carrancuda.
– Nenhum. Realmente nenhum. – ela suspirou e jogou o cigarro ainda pela metade no chão o apagando com o salto da bota que calçava – Nem sobre minha vida eu tenho... Quem dirá sobre este banco.