Capítulo 3

Capítulo 3

 

Fazia uma semana que Edward não saia de casa. Ele não tinha motivos para tal. Perdera a força que o estimulava e não via sentido em mais nada.

 

Todos os dias pensava nas palavras do pai e não se conformava por Carlisle ter acatado aquela decisão, afinal ele era ou não a porra do diretor de operações daquela merda?

 

Edward até pensou em ligar para Jasper, continuar as investigações por conta e fazer justiça com as próprias mãos, porem sabia que se algo vazasse e chegasse novamente até seu pai, Carlisle perderia as estribeiras e o prenderia. Recluso não poderia fazer mais nada, nem mesmo afogar suas mágoas com a porra da bebida.

 

Fechando os olhos e sentindo a bebida começar a fazer o efeito desejado, flashes da briga dos dois passavam diante de seus olhos.

 

            “Será que você não entende Edward? Eu mais do que ninguém gostaria de colocar aquele desgraçado atrás das grades, mas eu não posso retrucar ordens vindas dos meus superiores.” Carlisle disse jogando a pasta do caso Volturi com raiva em sua mesa, cansado de discutir com o filho.

 

            “Alguém está por atrás disso tudo, Carlisle. A gente pode montar uma operação paralela e investigar de onde está vindo essa decisão. É impossível arquivar o caso com todas essas provas e testemunhos. Eu sei que foram eles que mataram minha mãe e a Karen!” Edward disse transtornado e tentando convencer o pai a mudar de idéia.

 

            “Não Edward! Já bastam as suas operações paralelas que eu tive que explicar. Eu não quero mais te ver envolvido nisso.”

 

            “Será que você não enxerga, pai? Alguém está tentando derrubar a gente e é alguém aqui dentro dessa agência.” Carlisle engoliu em seco a acusação do filho e procurou força para encará-lo e digerir aquelas palavras que pareciam torturar sua alma ainda mais. A única coisa que pensava naquele momento era na segurança do filho, não queria perdê-lo também.

 

            “Chega, Edward! Eu não quero ouvir mais nada sobre isso. O caso vai ser arquivado e eu quero você longe daqui durante esses quatros meses.” Carlisle determinou e Edward enfurecido, chutou uma cadeira a sua frente, assustando algumas pessoas que estavam do lado de fora da sala de Carlisle.

 

            “Você age como se essa merda toda não fosse da sua conta. Você não dá a mínima pro que aconteceu com a minha mãe. Foi você que a colocou nessa merda toda!” Carlisle odiava quando Edward jogava o peso da culpa em sua cara. Já bastava que ele mesmo se culpasse pelo o que acontecera, não precisava que o filho cutucasse essa ferida ainda mais.

 

            “Não Edward, quem expôs isso tudo para os Volturi foi você. Se você tivesse ficado longe como eu mandei sua mãe e Karen ainda estariam aqui!”

 

Edward abriu os olhos devagar, sentindo seu peito doer e contrair pelas palavras do pai. O pior é que ele sabia que Carlisle tinha razão. Se ele não tivesse levado essa investigação pelo lado pessoal, talvez nada disso tivesse acontecido. Se não tivesse ficado obcecado pelo caso e pela sede de justiça, sua mãe e Karen ainda estariam vivas.

 

Perdido no espaço de tempo, Edward acordou sentindo como se sua cabeça fosse explodir e resolveu tomar um banho quente e tentar ingerir algum alimento. Após o banho, preparou um café preto e bem forte para si e tentou comer algumas bolachas, sem muito sucesso. Se Karen estivesse ali, com certeza estaria fazendo suas orelhas doerem, dando um belo sermão sobre alimentação saudável. 

 

Doía relembrar de quando tomavam o café sempre juntos. Pelo menos até antes da morte de sua mãe e quando ficara ainda mais obcecado pelos Volturi. Karen tentou o máximo continuar ao lado dele, só Deus sabe o quanto ele também tentou, mas sua cabeça só tinha foco em sua vingança.

 

Ao terminar seu café, Edward olhou para seu apartamento e sentiu repulsa por ter chegado a esse ponto. Ninguém em sã consciência viveria ali, com lixo espalhado para todos os lados, garrafas de bebida espalhadas pelo chão, roupas sujas jogadas pelos cantos.  Se sua mãe visse seu estado lhe daria uma bela surra, o mandaria limpar tudo na mesma hora e o deixaria de castigo por pelo menos um mês.

 

Sentindo-se nostálgico, Edward se forçou a levantar do sofá e recolher todo aquele lixo. Só porque não conseguia mais andar direito por ali, e não porque via sentido e vontade de fazê-lo. Recolheu suas roupas e separou-as para lavar depois, jogou todo o lixo fora e foi mexer em algumas caixas que ainda estavam intocadas desde quando se mudou da casa que Karen e ele moravam.

 

Eram pertences de sua infância e adolescência e não tinha porque desempacotá-los, na verdade não tinha nem espaço para acomodar essas quinquilharias, mas de algum modo, sentia que mantendo aquilo, era uma forma de lembrar-se dos tempos bons de sua vida.

 

Talvez esse fosse seu problema. Ele tinha muitas coisas por perto que o faziam lembrar-se desses tempos bons que nunca mais voltariam. Ainda tomado pelo amargor da nostalgia e curioso para relembrar o que tinha ali e, sem nada melhor para fazer até seu próximo momento de encher a cara até apagar, Edward começou a fuçar nas caixas.

 

Encontrou diversos brinquedos, roupas de bebê que sua mãe biológica, Elizabeth guardara antes de morrer, livros que usou no colégio e na faculdade, seu diploma e em especial, encontrou um baú de vime que ganhara de Renne aos oitos anos de idade. Edward ao ver aquilo sorriu genuinamente pela primeira vez depois de dias.

 

Renne notara que Edward adorava livros. Para ele os livros sempre foram um refugio quando estava triste com algo, e sua mãe de coração, vendo o quanto isso era importante para ele, resolveu presenteá-lo mandando fazer esse baú, que trazia uma serigrafia trabalhada com os dizeres: Meus Segredos Preciosos. Edward guardara ali todos os livros que mais gostou de ler desde pequeno, e depois de adulto planejava presentear seu próprio filho com o mesmo presente. Ele poderia ter feito isso se... Eram tantos se, na vida dele que acabara perdendo as contas.

 

Num impulso de raiva extrema, Edward jogou aquele baú com toda força contra parede, fazendo livros voarem para fora e partindo o baú ao meio. Respirando com dificuldade, só então reparou que chorava copiosamente, sem mais forças para conseguir controlar suas emoções. Sentindo seus joelhos enfraquecerem, Edward encostou seu corpo contra a parede, buscando apoio e controle de suas emoções. Era por isso que ele não gostava de relembrar. Isso só o enfraquecia ainda mais.

 

Após vários minutos tentando se controlar, Edward olhou para o estrago que tinha feito, e não querendo mais ver todas aquelas malditas lembranças, ele começou a recolher todos os livros do chão. Foi ao pegar um dos livros que algo chamou sua atenção. Ele sabia de cor tudo que tinha guardado ali e aquele livro em questão não parecia fazer parte de sua coleção. Na verdade ele não parecia ser um livro, mas sim um pequeno caderno. Edward o analisou mais de perto e percebeu algo escrito na capa.  

 

Diário de Giovanna Swan

 

Ele sabia muito bem de quem era aquele diário, mas como ele havia parado ali? Deixando-o de lado por alguns segundos, Edward tomou atenção ao baú e percebeu um fundo falso no mesmo, que havia se partido no impacto contra parede.

 

Intrigado com aquilo, sua cabeça começou a formular diversas perguntas. Por que sua mãe nunca lhe contara sobre esse diário? E por que ele estava com seu nome verdadeiro?

 

Analisando com mais calma, Edward deduziu que talvez aquele diário fosse da época que Renne ainda era menina, e decidiu guarda-lo para ter alguma lembrança, afinal ele nunca a vira escrever nele. É claro que um diário é algo pessoal e ela não tinha o porquê de mencioná-lo, mas porque escondê-lo dessa forma?

 

Perdido em pensamentos, Edward ficou olhando para o diário durante um bom tempo e terminou de guardar os outros objetos. Levantando-se do chão ele colocou o diário de sua mãe em cima da mesa de centro e foi até a cozinha pegar uma bebida, enquanto travava uma batalha dentro de si.

 

Talvez ela tenha escondido porque tinha medo que alguém o encontrasse e descobrisse sua identidade.

 

Seria invasão de privacidade querer saber mais sobre ela?

 

Afinal o que poderia conter ali? Somente revelações de amor de sua adolescência, certo?

 

Se ela quisesse que alguém o lesse, o teria deixado exposto.

 

Pensando nesse ultimo ponto Edward resolveu não invadir a privacidade de sua mãe. Ele tentou se distrair assistindo algo na tv, se pegou assistindo aqueles programas de compras que odiava, e no entanto nada parecia dispersar sua atenção. Aquele diário o atormentou pela madrugada a fora e por diversas vezes, Edward o pegou para ler, mas a consciência falava mais alto e parecia que, de onde quer que sua mãe estivesse o estaria reprimindo pelo seu ato de invasão.

 

Não foi até às cinco horas da manhã, e depois de ignorar centenas de ligações de Jasper e seu pai, que Edward apertou o botão do foda-se e pegou aquele maldito diário para ler.