Capítulo 13

Uma semana havia passado após o acidente. Isabella permaneceu ao lado do agente desde o fatídico dia, voltando para casa somente para tomar banho e trocar de roupa. Edward permanecia em coma induzido, tratamento comum para o tipo de injurio que ele sofrera, no entanto, o médico responsável pelo seu tratamento, havia comentado com Isabella que as doses de sedativo estavam sendo diminuídas a cada dia, gerando assim, a possibilidade dele acordar a qualquer momento.

Isabella decidiu então permanecer ao dele o máximo de tempo que conseguisse. Agora que o susto havia passado, seu coração estava mais calmo pelo sobrinho, mas sua preocupação pela saúde do agente permanecia constante. Outro fato que estava deixando Isabella aflita era que, até aquele presente dia, ninguém havia procurado aquele homem. Nenhuma ligação ou visita. Edward não havia comentado com ela sobre família, somente que seu pai não era mais vivo. Será que ele não tem mais ninguém? Irmãos, mãe ou avós?

No dia do acidente, Edward carregava consigo somente seu documento de identidade, máquina fotográfica e celular. Nem mesmo em seu telefone havia números gravados ou registro de ligações anteriores para tentar algum contato, o que Isabella achou estranho.

Será realmente que ele é um homem solitário? Ela se perguntou dezenas de vezes durante aquela semana.

Contudo, isso não importava agora. Isabella só queria que ele abrisse os olhos e ficasse bem. Ela precisava dessa certeza para acalmar a culpa que sentia pelo acidente.

Naquela tarde ela foi até a lanchonete do hospital comer algo rápido e aproveitou o momento para ligar para o primo. Sua cabeça estava a mil, pois além de sua preocupação com Edward, Isabella também estava preocupada com os negócios. A vinícola está passando por uma situação difícil após o prejuízo que Giovanni causara.

Após o incêndio que destruiu uma parte da colheita desse ano, eles perderam alguns contratos de fornecimento. A esperança agora vinha da feira que aconteceria no próximo mês.

    "Ciao, Bella. Como estão as coisas por aí oggi?" Emmett saudou a prima, enquanto seus olhos passavam por algumas contas que precisavam ser pagas.

    "Ciao, Emm.Tutto na mesma. Ele continua sedado, mas pode acordar a qualquer minuto." Isabella explicou entre uma mordida e outra de seu lanche.

    "Isso é ótimo. Estou separando algumas contas. Io credo que não tenha ficado nada para trás."

    "Mi dispiace, Emm. Eu simplesmente larguei tudo em suas mãos." Isabella pausou chateada por deixar o primo nessa situação "Isso tudo mexeu demais comigo. Não tenho cabeça para trabalhar sem antes ter boas noticias."

Emmett entendia sua prima. Bella sempre teve um bom coração e sentia-se responsável pelo ocorrido.

    "Não se preocupe, mia cara. Depois que você assumiu o burocrático perdi um pouco da prática, mas não é um bicho de sete cabeças. Pedi que Angelo e Luigi viessem nos ajudar por esses dias. O atendimento está normalizado e a produção continua a todo vapor."

    "O que seria de mim senza te?"

    "Niente." Emmett brincou "Mas falando sério, Bella. Não se sinta culpada com tudo isso, ?"

Emmett preocupa-se demais com a prima. Ele viu Bella sofrer anos atrás com o mesmo sentimento após a morte de seu pai. Não queria vê-la sofrendo por causa de uma fatalidade. Situações como essa acontecem todos os dias mundo afora.

    "Estou tentando, Emm. Não é fácil. Me sinto responsável por Edward estar naquela cama. E se ele tiver alguma sequela?"

    "Então será porque Dio quis assim, capiche? Nada acontece se não for a vontade Dele."

Isabella pensou muito sobre isso. Emmett sempre dizia isso a ela. Através de sábios conselhos, forçava sua mente enxergar a situação por uma ótica diferente. Foi assim desde que ele a acolheu quando sua família voltou para a Itália. Eles tinham uma conexão tão grande que pareciam até mesmo irmãos, mesmo sabendo que não são primos de sangue. Fato esse que gerou toda a discórdia em sua família.

Mas e nesse caso? Qual é a vontade de Deus ao deixar algo assim acontecer? Um alerta por causa de Luca? Porque se for por isso o menino agora sequer pode dar um passo sem que tenha alguém ao seu lado. Mas e Edward? Por que acontecer algo tão terrível assim com ele?

Para ela Edward é um herói. Isabella viu o momento do acidente e presenciou o agente desviar o carro para não atingir seu afilhado. Um ato nobre o qual Bella seria grata eternamente. E é daí que surgi sua confusão. Como um ato nobre como esse pode ter uma consequência tão grande? Qual é a vontade Dele nisso tudo? Castigá-la por ter arruinado sua família?

O que Isabella não sabe é que os céus traçaram o seu destino e o de Edward para salvar suas vidas. Para tentarem juntos encontrar o caminho da paz de espírito. Porque mesmo que o agente não tivesse vindo a sua procura em busca de vingança, outra pessoa que também sabe de sua existência viria, desencadeando uma nova batalha. E isso só não aconteceu ainda porque Ele não quis.

Cansada de pensar em tantos porquês, Isabella decidiu deixar todos esses questionamentos de lado. Precisava focar sua energia e atenção em Edward para que voltasse a estar cem porcento. Ela o ajudaria a passar por todas as dificuldades que venha a enfrentar. Essa seria a forma de agradecê-lo pelo ato de heroísmo que teve.

Depois que voltou para o quarto do agente, Isabella sentou-se no mesmo lugar de sempre. Um banquinho desconfortável que ficava ao lado da cama. Segurando a mão esquerda dele, ela sorriu ao olhar para seu rosto. Os machucados estavam começando a fechar, assim como a mancha roxa da batida começava a clarear a cada dia. Edward ainda usava uma bandana na cabeça, protegendo os pontos da cirurgia. Seus cabelos que antes eram cumpridos, agora estavam curtos devido o procedimento.

Bella ligou o aparelho de TV que tinha no quarto. Normalmente em casa preferi a companhia dos livros, mas ali com certeza não conseguiria concentrar-se na leitura. O movimento de pessoas era constante, sem falar das enfermeiras que entravam no quarto a cada meia hora. Sintonizou em um canal de fofocas e entrevistas e permitiu distrair-se com aquilo.

Foi durante um bate boca acalorado na televisão que Bella sentiu a mão de Edward apertar a sua. Seus olhos imediatamente voaram em direção a ele e percebeu os olhos do agente entre abertos. Seu coração disparou no peito e percebeu que o bip do monitor cardíaco também estava agitado. Chamou então a enfermeira de plantão e depois disso, foram minutos até que pudesse voltar ao quarto novamente.

    "Sente alguma dor, algum desconforto Sr. Edoardo?" Dr. Sanders questionou ao agente durante o exame preliminar. Ele estava verificando seus reflexos, percepção, atenção e memória.

    “Não sinto dor. Somente uma pressão na cabeça.” Respondeu meio grogue por causa da medicação.

    "Quantos dedos vê aqui?" Edward respondeu três, corretamente "Sabe em que ano estamos?" Ele olhou para o doutor por alguns segundos, parecendo confuso.

    "Eu... Não me lembro." Murmurou franzindo a testa na tentativa de lembrar-se.

    "Tudo bem. Sabe por que está aqui? Recorda-se de algo do acidente?" O médico questionou agora medindo sua pressão.

    "Não. Não lembro. É estranho. Parece tudo vazio." Edward disse confuso e começando a ficar agitado.

    "Acalme Sr. Edoardo. Vou explicar a você o ocorrido. Talvez o ajude." O agente apenas balançou a cabeça, sentindo um peso em sua nuca e levou as mãos até a região.

Dr. Sanders explicou a ele todo o procedimento e sobre o acidente que sofrera. O neurologista, formado e nascido em Londres e com anos de experiência, não ficou surpreso pelo comportamento de Edward. A cirurgia de emergência que sua equipe precisou fazer foi extremamente delicada. O impacto do acidente ocorreu em uma região sensível do cérebro, e a possibilidade de ter afetado alguma terminação nervosa era grande. E a confirmação desse dano ocorreria somente quando o paciente recuperasse a consciência.

Vários exames foram solicitados em seguida. Edward além de confuso sentiu-se como uma verdadeira cobaia. Mesmo após a explicação do médico sobre o ocorrido, sua agitação não passou. Sua cabeça era um infinito branco. Não se lembrava quem era, como foi parar ali, sobre sua vida ou seu passado.

Isabella recebeu a notícia de seu estado logo após os exames serem solicitados. Dr. Sanders explicou sobre a situação do agente e que precisava dos resultados para saber a condição real de Edward.

    "E como ele está?" Isabella perguntou sentindo sua cabeça girar. Lágrimas silenciosas caiam de seu rosto devido o impacto da notícia.

    "Muito confuso. Aparentemente, pelos exames preliminares, ele está com perda total de memória. Como lhe disse esse estado pode ser temporário. Uma defesa do corpo até sua recuperação total. Somente com os outros exames em mãos saberei a real extensão do dano."

Confusa, ela ficou sem saber como agir.

    "Será que devo vê-lo?"

    "A familiaridade é extremamente importante e benéfica para tratamentos como esse. Ele está muito confuso com tudo. Talvez o ajude a se acalmar."

Ela agradeceu a atenção do médico e sentou-se em um dos bancos no corredor na tentativa de clarear seus pensamentos e se acalmar. Olhando para a porta do quarto de Edward por longos minutos, pensou em como agir em uma situação como essa. O que ela falaria para ele afinal?

“Oi. Meu nome é Isabella. Eu sou a grande culpada por você estar neste hospital. Ah e nós nos conhecemos somente há dois dias.”

Ela não esperava por isso. Perda de memória? Cogitou tantas outras possibilidades que não fazia ideia de como proceder. Nervosa, Isabella respirou fundo e começou a andar de um lado ao outro no corredor.

É uma provação. Só pode ser uma provação. Afinal nada na sua vida é fácil não é Bella?

Mesmo com medo que Edward jogasse todos os utensílios daquele quarto em sua direção após saber a verdade, ela precisava dar apoio a ele. Jurou a si mesma que o ajudaria nesse momento e é o que faria. Um dos valores que seus pais haviam lhe ensinado é honrar suas responsabilidades.  Ela sentia-se responsável pela recuperação do agente. Faria de tudo para vê-lo bem novamente. E quem sabe ele olhando para ela não se recorde de algo?

Decidida Isabella entrou no quarto vagarosamente e olhou para Edward. Sua cama estava um pouco inclinada e seus olhos fechados. Resolveu então sentar ao lado da cama e esperar que ele acordasse novamente.

Edward acordou somente durante a madrugada. Piscando seus olhos para adaptar-se a claridade do quarto, ele percebeu o tronco de Isabella deitado ao lado de sua cama. Franzindo o cenho, levou a mão até o braço da moça e chacoalhou de leve. Ela acordou assustada e levantou rapidamente, esfregando o rosto para espantar o sono.

            “Desculpe. Não queria te assustar.” Edward disse olhando para o rosto dela “Nós nos conhecemos?”

Isabella murchou na hora. Ele não se lembrava dela.

            “Sim, nós nos conhecemos.” Ela limpou a garganta e continuou “É bom vê-lo acordado. Já estava ficando angustiada em não ter ninguém para conversar.” Bella disse tentando quebrar o gelo com uma brincadeira.

            “Tudo culpa desses remédios. Me sinto estranho com eles.” Edward resmungou apontando para a agulha injetava em sua veia, por onde recebia o soro e medicação “Se soubesse que uma mulher tão bonita estava aguardando que eu despertasse, teria o feito antes.” Brincou de volta, com certo flerte na voz “Não passou por sua cabeça tentar me despertar com um beijo?”

O coração de Isabella pulou no peito pelo jeito descontraído e assanhado de Edward. Como ele pode flertar com alguém que conheceu segundos atrás? Para ela o agente parecia ser outra pessoa. Não parecia cauteloso ao flertar com ela como das vezes anteriores. Sua postura era gentil e seus olhos a encaravam com curiosidade.

Isabella não estava de toda errada. Edward realmente parecia ser outra pessoa. Mas quem o conheceu anos atrás, não notaria a diferença. Antes de saber toda a verdade sobre sua mãe, o agente sempre fora descontraído e não perdia a chance de flertar com uma moça bonita. A pessoa diante dela era a essência de Edward perdida há muito tempo. Somente esse Edward demonstraria um interesse tão genuíno por ela.