Capítulo 12

 

No dia seguinte Edward acordou horas antes do sol nascer. Ele tinha um longo percurso pela frente e, satisfeito com a noite de ontem ao ver suas investidas dando resultado, queria dar andamento ao seu singelo trabalho e postá-lo o quanto antes. Para isso precisava revelar as fotos que tirou de Isabella e algumas cópias do diário de Renne e resolveu fazê-lo em Florença. Não podia arriscar ter testemunhas no pequeno centro de Montichello, dessa forma, Florença era sua única opção.

 

Era nessas horas que ele lembrava o quanto sua vida de agente seria mais fácil se a vida real fosse igual aos filmes de James Bond. Se ele tivesse um celular que faz tudo, poderia imprimir as malditas fotos e tirar as cópias sem ao menos sair de seu quarto. Possivelmente o celular ainda seria uma arma ou um explosivo de alto impacto.

 

James Bond é uma farsa isso sim!

 

Ele retornou a Montichello próximo às nove horas da manhã. Já dentro da privacidade de seu quarto e equipado de luvas, touca e uma pinça, Edward anexou a foto de Isabella e a cópia de alguns trechos do diário de Renne dentro do envelope que constava a carta anônima que ele tinha feito com recortes.

 

Ao receber a encomenda Aro Volturi logo se daria conta de suas intenções. Com cuidado, Edward selou o envelope e o embalou em um saco plástico até o momento de postá-lo. Antes de sair tomou um banho e se preparou para mais um encontro com Isabella.

 

Tomando todo cuidado para não entrar em contato com o envelope, Edward o depositou no balcão da unidade de serviço postal ainda embalado no saco plástico e o atendente providenciou o encaminho da carta anônima.

 

Edward saiu dali com um sorriso nos lábios, desejando ser uma mosca para que pudesse ver pessoalmente a reação de Aro ao receber sua encomenda.

 

O dia de Isabella amanheceu diferente. Ela pensou que talvez fosse acordar e se arrepender da decisão que havia tomado ontem à noite, no entanto ela estava bem consigo mesma. Sentiu-se bem em conversar com Edward ontem e contar um pouco sobre si e, ao ver o interesse dele, sentiu-se curiosa para conhecê-lo melhor.

 

Animada acordou cedo e aproveitou para adiantar o serviço no escritório e assim ter mais tempo livre com Edward. Ela só não esperava a agitação que se formou na vinícola. Por ser sábado e o sol característico da Toscana estar brilhando no céu, receberiam duas caravanas que agendaram um tour de última hora.

 

Sempre que isso acontece Luca passa o dia com Isabella e ela não podia negar, adora o afilhado como se fosse seu próprio filho. Luca gosta desses dias agitados e adora ajudar sua tia a receber os turistas. Emmett mandou até mesmo fazer uma mini camiseta para ele com o logo da vinícola e o pequeno sempre acaba tornando-se a atração principal.

 

Os dois ônibus chegaram abarrotados de turistas e Isabella e Luca os receberam no estacionamento, explicando vagamente sobre a propriedade e os encaminhando para a adega. Logo depois que os turistas dispersaram, Luca perdeu o entusiasmo.

 

            “Bella, posso andar de bicicletta?” Luca perguntou chamando a atenção da tia.

 

Isabella pausou a conversa com alguns turistas e olhou para os olhos brilhando de seu afilhado “Pode Luca, mas não saia de perto de mim.”

 

            “Grazie madrina!” Luca exclamou pedindo que Bella se abaixasse para que ele pudesse beijar seu rosto.

 

Bella sorriu com o afeto e viu Luca correr em direção a casa para pegar sua bicicleta. Luca ganhou a bicicleta no Natal passado e era seu passatempo favorito. Ele adorava pedalar rapidamente e sentir o frescor do vento em seus cabelos. Hoje ele estava mais animado do que nunca e, percebendo que sua tia estava entretida, resolveu aventurar-se indo o mais longe que pudesse.

 

Por instinto Bella percebeu que o barulho das rodinhas da bicicleta de Luca havia parado e desviou sua atenção para area que ele estava pedalando há pouco. Quando não viu seu sobrinho por ali, um cala frio percorreu sua espinha.

 

Educadamente pediu licença ao casal que conversava e vasculhou rapidamente seu arredor em busca de Luca.

 

            “Luca!” Ela chamou sem obter resposta. “Luca!” Seu coração começou a ficar ansioso e seus passos mais rápidos. “Luca!” Chamou novamente olhando para o portão de entrada, que dá acesso a estrada principal, e algo dentro de si a fez correr naquela direção.

 

Edward estava quase chegando à vinícola, travando uma batalha com o ar condicionado do carro que resolveu parar de funcionar. O calor como sempre estava insuportável para ele que está acostumado com temperaturas mais amenas. Ele dividia sua atenção entre os botões e a estrada.

 

            “Porcaria.” Resmungou socando os botões e tirando sua atenção da estrada.

 

Ao voltar os olhos para o caminho, Edward viu o reflexo de algo a sua frente e a única reação que teve foi pisar no freio e desviar o carro para o sentido contrário, colidindo com um caminhão de verduras que vinha no sentido oposto.

 

Com o impacto Luca assustou-se e caiu da bicicleta, caindo do outro lado da estrada e machucando suas mãos ao derrapar nos pedregulhos.

 

Bella presenciou o ocorrido gritando por seu sobrinho e correu em direção ao pequeno menino o envolvendo em seus braços. Desesperada ela analisou cada detalhe dele e, ao constatar que Luca estava bem, Isabella olhou para o acidente do outro lado da estrada e seu coração disparou uma vez mais ao perceber o carro de Edward.

 

Devido o barulho do impacto, muitos correram em direção à estrada e Emmett percebeu que Isabella e seu filho não estavam por ali. Rosálie saiu correndo naquela direção chamando por Luca e sua prima, sem se importar em abandonar as pessoas que atendia.

 

Ao ver Rosálie ali, Isabella entregou Luca para mãe e correu até o acidente. Emmett logo estava ao seu lado e chamou a emergência local. Isabella viu um rapaz sair do caminhão parecendo desorientado enquanto chamava por Edward e tentava abrir a porta do motorista,  porem só conseguiu resultado com a porta do passageiro que não fora atingida na colisão. Ao perceber Edward desacordado, seu coração doeu e lágrimas caíram de seus olhos.

 

... 

É tudo culpa minha. Tudo culpa minha...

 

Esse era o mantra de Isabella desde que entrou na ambulância que socorria o agente para acompanhá-lo até o hospital geral em Florença.

Edward já estava a três horas em cirurgia e nenhum médico trazia respostas para acalmar o coração de Isabella.

Emmett havia ligado a pouco e, depois de contornar a situação na vinícola, acalmar Rosálie, Luca e até si mesmo do susto, avisou que estava a caminho do hospital.

Emmett pediu que seu amigo Alessandro o acompanhasse até Florença o seguindo com o carro de Isabella, pois sua prima dormiria no hospital naquela noite. Emmett até pensou em ficar ao lado dela, no entanto Isabella sabia que ele não podia deixar Luca e Rosálie sozinhos na vinícola.

Ao encontrar Isabella sentada em um dos corredores vazios e ver seu rosto vermelho e choroso, a única reação que Emmett teve foi abrir seus braços e deixar que sua prima chorasse em seu peito. Ele havia escutado os murmúrios de Isabella durante o atendimento a Edward e sabia que ela estava se culpando pelo ocorrido.

 

            “Não é sua culpa, Bella. Essas coisas acontecem. Questi bambini são imprevisíveis.”

 

            “Se eu estivesse prestando mais atenção nada disso teria acontecido. Podia ter sido algo pior, Emmett.” Ela balbuciou entre o choro.

Emmett não queria se quer pensar nessa possibilidade.

 

Alessandro estava próximo a eles e fez um sinal ao amigo dizendo que iria buscar algo para Isabella beber.

 

            “Shh... Tudo vai ficar bene. Edoardo é um homem forte. Tenho certeza que ele vai ficar bem.” Emmett disse confortando sua prima enquanto a abraçava.

 

Mais uma hora havia se passado quando o médico de plantão os abordou trazendo noticias de Edward. O quadro clínico do agente era estável, porem ainda corria riscos durante as próximas quarenta e oito horas.

O médico explicou a eles sobre a cirurgia no crânio devido um coagulo no cérebro. Com o impacto a lateral esquerda da cabeça de Edward colidiu com força contra a janela, ocasionando a lesão. No mais ele apresentava somente uma luxação no braço e na perna esquerda.

Mesmo sem poder dar garantias o médico os tranquilizou, avisando que Edward poderia receber visitas dali uma hora.

    "Já é tarde Emm. Vai para casa. Fico preocupada em deixar Rose e Luca sozinhos."

    "Tem certeza que vai ficar bem?"

    "Tenho. Amanhã eu ligo cedo para dizer como ele está." Emmett beijou os cabelos da prima "Ciao Alessandro. Obrigado por ter vindo com meu primo." Isabella disse aceitando o copo com água que ele havia trazido.

    "Não tem de que, Bella." Alessandro sorriu para ela com carinho. Ele queria poder fazer mais por Isabella, mas infelizmente ela não nutria o mesmo sentimento que ele.

Após despedirem-se Isabella caminhou até o quarto 316 e pausou respirando fundo antes de entrar. Hospitais não eram o forte dela, traziam lembranças dolorosas demais.

Caminhando a passos lentos ela se aproximou da cama do agente e sorriu para a enfermeira que estava ali.

    "Vou ministrar alguns sedativos para ele passar bem a noite." Disse a enfermeira batendo de leve com o dedo indicador na seringa para retirar o ar e injetou em seguida na sonda presa ao braço de Edward.

    "Ele está realmente bem?" Bella quis saber insegura ao olhar para o semblante do homem deitado na maca.

Edward estava pálido, com cortes pequenos pelo rosto devido aos cacos de vidro que se partiram no impacto, e a lateral esquerda do rosto estava inchada e com coloração roxa.

"Ele vai ficar bem. Dr. Sanders é um dos nossos melhores cirurgiões de Florença. Eles conseguiram conter a hemorragia e amenizar a pressão do coágulo."

Isabella apenas assentiu puxando uma cadeira que estava ao lado da cama e sentou-se. Ela depositou sua bolsa no chão e ficou ali parada por alguns minutos olhando para o agente enquanto a enfermeira terminava os procedimentos.

    "A senhorita tem algum parentesco com ele?" A enfermeira questionou comovida ao ver a preocupação de Isabella, deduzindo que ela fosse namorada ou irmã do agente.

    "Não. Nós nos conhecemos essa semana." Isabella disse pensativa e estranhando a intensidade de suas emoções.

Por se conhecerem a tão pouco tempo era certo sentir-se dessa forma? Como se fosse uma pessoa próxima a ela que estivesse deitada naquela cama?

O sentimento de culpa faz isso com as pessoas? Engrandece as emoções para acalmar a angústia que corroí as infinitas possibilidades dos e se...

A enfermeira apenas assentiu distraída pensando no próximo paciente que precisava atender e pegou o prontuário do agente, assinalou os remédios ministrados e saiu em seguida do quarto, deixando uma Isabella confusa sozinha com seus pensamentos.

O único som ouvido ali agora era do monitor que controlava os batimentos cardíacos do paciente e tanto silêncio fez a mente de Isabella viajar longe. A última vez que esteve em um hospital foi quando sua mãe ficou internada por problemas cardíacos. Depois que seu pai morrera daquela forma bruta e estúpida, o coração de sua mãe nunca mais foi o mesmo.

Ela lembrou-se que na semana antecessora a morte de sua mãe, fez uma visita a capela do hospital na tentativa de acalmar suas emoções. Angustiada pela ansiedade e culpa que sentia, resolveu fazer o mesmo nesse momento. Ao chegar lá encontrou o local vazio com somente algumas velas acessas.

Ajoelhou-se fazendo o sinal da cruz e pediu de forma fervorosa que o agente ficasse bem. Sua família sempre foi muito religiosa e Isabella gostava da sensação de paz que sentia ao elevar seus pensamentos em prece.

Sua oração fora ouvida. O agente ganharia uma segunda chance.

Uma segunda chance que irá mudar a vida dos dois para sempre.