Capítulo 10

A noite de Edward após o encontro com Isabella foi regada com doses excessivas de uísque e vodka. Uma combinação bombástica e que resultou na pior ressaca que ele já tivera.

 

Sua cabeça parecia que iria explodir ao mínimo movimento, cada barulho parecia triplicar de volume e agora ele tinha que levantar da cama para honrar seu compromisso.

 

Edward não conseguia entender até agora a maldita idéia que passou em sua cabeça. Ele sentiu nojo de si mesmo ao se dar conta da maneira que agiu durante o almoço quase perdendo o controle da situação. Ele sempre fora muito objetivo em suas missões. Fora treinado para ser assim, porem essa missão em especial mexia demais com suas emoções. Ele não estava cumprindo ordens e não teria o respaldo da CIA caso algo fugisse do controle.

 

Por esse motivo decidiu para o bem de sua sanidade, se é que lhe restava algum resquício dela, que ele pensaria menos e agiria mais. Faria o que lhe fora ensinado. Focaria somente em seu objetivo e nada além disso. Ele lidaria com as consequências depois.

 

O que lhe restava agora era levar a idéia à diante, afinal ele precisava de uma foto de Isabella e tentar tirar dela informações mais concretas sobre seu passado. Não que ele precisasse de alguma confirmação, mas checar os fatos deixaria sua consciência, se é que também ainda tinha uma, mais tranquila.

 

Levantando da cama parecendo um moribundo, ele tomou um banho gelado para tentar curar a maldita ressaca e vestiu roupas leves para enfrentar o calor. Pegou seu óculos escuros, sua arma, chaves do carro e máquina fotográfica.

 

Antes de partir rumo à vinícola, Edward resolveu passar em uma confetteria no centro da comuna italiana para comprar um café preto e repor o açucar com as deliciosas iguarias que tinha ali. Da ultima vez que esteve na Itália, ele não teve tempo para conhecer as delicias da região e resolveu se dar ao luxo para tal.

 

Olhando para a vitrine recheada dos mais diversos doces, ele sorriu involuntariamente ao lembrar o quanto sua mãe era apaixonada por eles. Quando adolescente, Edward a apelidara de Mamãe Abelha porque sempre que alguém não estivesse olhando, Renne aproveitava para assaltar a despensa e devorar barras de chocolate ou tortas prontas.

 

Ele provou um Profiteroli al Cioccolato, que nada mais é do que Carolinas recheadas com chantilly e cobertas por chocolate. Simples, mas extremamente saborosas. Sentindo a combinação em sua boca, Edward decidiu que aquele doce havia se tornado seu favorito.

 

Inevitavelmente ele pensou se Isabella também teria o mesmo gosto por doces que Renne e resolveu levar alguns profiterolis para sua anfitriã. Seria uma forma de quebrar o gelo e talvez ganhar pontos no quesito sedução.

 

Isabella acordou naquela manhã com mais animo do que o de costume e ansiosa para rever Edward. Não sabia explicar o motivo de sua euforia repentina, pois não estava criando expectativa alguma com relação a ele. Afinal o que ela poderia esperar? Ele flertou com ela, claro, e é um homem muito bonito e gentil, mas isso não representa nada. Eles mal trocaram algumas palavras.

 

 E por que mesmo eu estou pensando nisso tudo? Edward só quer um guia para lhe mostrar o local e fazer seu trabalho, ninguém falou que ele tenha algum outro tipo de interesse.

 

Sem contar que Isabella estava focada no trabalho. Não podia dispersar sua atenção pensando em homens. Descartando, é claro, o infelice que acabara de entrar em seu escritório. Esse atormentava até mesmo seus pesadelos.

 

            “O que faz aqui Carlo?” Isabella questionou bruscamente.

 

            “Relaxa, amore mio.” Carlo disse com seu típico sorriso sacana no rosto. “Eu vim aqui tratar de negócios.” Disse tomando a liberdade de sentar na cadeira em frente à mesa de Isabella e inclusive apoiar suas botas sujas de terra ali.

 

            “Eu não faço negócios com bandido.” Bella retrucou batendo em suas botas com as mãos e empurrando seus pés dali.

 

Ragazzo sfacciato!

*Homen folgado, insolente

 

            “Oh, quanto mi dispiace.” Respondeu ele com deboche “Eu estou tentando te ajudar e é assim que me trata?”

*Que pena

 

            “Eu não preciso da sua ajuda, stronzo!” Isabella disse sem paciência para os joguinhos de Carlo “Você e sua familia são os culpados pelo o que aconteceu e agora está tentando se fazer de bom moço?”

*Idiota, babaca

 

            “Nós estamos sendo somente solidários.” Carlo disse fingindo estar ofendido pela acusação.

 

            “Vai embora, Carlo! Eu já disse que não quero nenhum Ferrazza em minha propriedade. Ou você esqueceu a ordem de restrição?” Isabella grunhiu segurando-se para não dar na cara debochada dele.

 

            “Va bene! Mas depois não venha dizer que eu não te avisei.” Carlo disse levantando-se e se atrevendo a acariciar o rosto de Isabella, recebendo em troca um tapa em sua mão atrevida. “Ciao, Bella!

 

Carlo saiu dali com o mesmo sorriso sacana no rosto, deparando-se no meio do caminho com Edward.

 

            “Va al diavolo!” Isabella exclamou com raiva sem perceber seu visitante olhando-a.

*Vá para o inferno!

 

Antes de anunciar sua presença, ele respirou fundo e limpou seus pensamentos, deixando Edward para trás. Agora, perto de Isabella, ele seria somente Edoardo. O homem dos seus sonhos.

 

            “Buon giorno, Isabella!” Edward desejou mascarando um sorriso. Isabella virou-se em direção a porta e calou as profanidades que saiam de sua boca. Carlo conseguia tirá-la do sério “Está tudo bem?” Ele perguntou notando suas bochechas coradas e os palavrões que sairam de sua boca segundos antes de entrar ali.

 

            “Buon giorno, Edoardo.Si, tutto bene. Somente uma visita indesejada.” Bella respondeu envergonhada.

 

            “Espero que não esteja atrapalhando.” Edward disse aproximando-se dela e Isabella balançou as mãos, reafirmando que estava bem “Trouxe alguns doces. Para agradecer a hospitalidade de ontem.” Disse colocando a embalagem em cima da mesa e tomando a liberdade de erguer a mão direita dela até seus lábios, plantando ali um amável beijo.

           

Isabella sorriu pela gentileza, corando aos sentir os lábios dele em sua pele “Não precisava se incomodar. Grazi.” Ela disse abrindo a embalagem e sentindo os olhos do agente em cada movimento seu “Mama mia! Meus preferidos!” Ela murmurrou e logo levou o profiterolis a boca. “Humm... Nhumm...” Edward olhou para ela com extremo interesse, admirado por vê-la agir igual a mãe. Sem contar a surpresa em saber que aquele doce também era seu preferido.

 

Limpando a garganta ele puxou assunto “Então é daqui que vocês comandam tudo?” Perguntou inspecionando o local.

 

O escritório era pequeno e ficava aos fundos da adega. As paredes estampavam fotos de familia, premios e diversos certificados do ramo de vinicultura. Emmett e Isabella dividiam o lugar que fora ocupado por seus pais e avôs. Aquele pequeno espaço representava a estória da familia Dorovan e Collovini.

 

E o que impressionava todos que estravam ali era a belissima exposição de todas as safras já produzidas. Parecia que a sala estava envolta por uma “colméia” de garrafas de vinho e Edward ficou fascinado ao ver safras com mais de cem anos expostas ali.

 

            “Impressionante, não?” Isabella comentou agora ao seu lado e com sorriso orgulhoso estampando o rosto “Esse é o nosso maior tesouro.”

 

            “Maravilhoso. É alguma tradição de familia?” Ele perguntou e apontou para a máquina fotográfica pendurada em seu pescoço, perguntando silenciosamente se poderia tirar algumas fotos. Ele precisava representar bem seu papel afinal.

 

Isabella concordou com a cabeça “Nostro nonno começou com a tradição. Ele apreciava cada produção que fazia. Para ele não existia safra ruim, cada uma era unica da sua maneira.”

 

            “Você já sentiu vontade de saborear alguma produção mais antiga?” Edward quis saber entre um flash e outro.

 

            “É claro que sim! Emmett então...” Disse ela rindo ao lembrar-se das diversas vezes que já pegou o primo tentando surrupiar alguns vinhos dali “Mas a lembrança vale mais do que um simples gosto. O ser humano é curioso por natureza, mas eu gosto desse misterio, sabe? De ficar imaginando o possivel gosto desses vinhos mais antigos.” Ela pausou, olhando para Edward “Você sempre gostou de vinhos? Como soube que era com isso que queria trabalhar?”

 

Edward tirou mais algumas fotos, pensando no que responder. “Meu pai era amante de vinhos e me ensinou tudo o que sei.” Respondeu vagamente.

 

            “Ele já visitou a Toscana alguma vez?” Isabella quis saber, curiosa em conhecer mais sobre Edward.

 

O agente tinha duas opções. Inventar um monte de baboseiras e quem sabe cair na propria mentira ou ser objetivo. Ela é quem dá as respostas aqui e não ele.

 

            “Ele faleceu há alguns anos.” Disse visualizando as fotos que havia tirado no display da máquina, dirfarçando sua inquietude pelo assunto.

 

            “Oh, sinto muito.” Isabella murmurrou sem jeito conhecendo muito bem a dor em perder alguém querido.

 

            “Obrigado. Mas vamos falar de coisas boas?” Edward perguntou sentindo seu estomago queimar “E o que mais pode me contar sobre você?” Disse sedutor e logo fingiu embaraço “Digo, sobre a vinicola.” E deu um sorriso que fez o estomago de Isabella dar voltas.

 

Como um simples sorriso pode fazer isso com meu corpo?Por que eu me sinto como se tivesse doze anos novamente e falando com o garoto pelo qual me apaixonei pela primeira vez? Quem é esse homem que faz minha cabeça dar voltas e causa sensações em meu corpo com um simples olhar?

 

 

            “Que tal começarmos nosso tour e eu te conto pelo caminho?” Isabella perguntou sentindo subitamente a sala ficar mais quente.

 

            “Claro. Estou à suas ordens.” Edward disse desligando sua máquina e sorrindo para ela.

 

Isabella liderou o caminho até os parreirais, o lugar que ela mais gostava de passar o dia. Ali era o começo de tudo. A visão das videiras era realmente linda. Os vãos entre cada parreira formava uma especie de labirinto circundando a propriedade e ao entrar por um desses vãos, tinha-se a leve impressão de que os cachos de uva não tinham fim e pareciam flutuar.

 

Eles cultivavam ali três tipos de uvas tintas. A Cabernet, Sangiovese originária da Toscana e a Barbera. Das uvas brancas somente um tipo. A Trebiano, também originária da região. Isabella adorava caminhar entre as parreiras, pois trazia lembranças de sua infância. Ela gostava de ficar imaginando como tudo começou, do trabalho árduo que seu nonno teve para plantar cada videira presente ali e do esforço que sua familia fez para manter a propriedade.

 

Edward veio logo atrás seguindo os passos de Isabella e por um momento contemplou o lugar. Era visto que as uvas ali eram extremamente saudáveis e bem cuidadas. O lugar parecia ter vida própria. Ele notou também o sorriso que não saia dos lábios de Isabella. Os olhos dela pareciam brilhar enquanto explicava para ele sobre as uvas cultivadas e arrancou alguns cachos para que ele provasse o sabor de cada uma.

           

            “Humm... Dolce.” Ela disse saboreando um gomo de uva Barbera.

 

            “Deliciosa.” Edward concordou olhando fixamente para Isabella e percebeu as bochechas dela corarem.

 

Edward sabia que estava forçando a barra e arriscando alto ao flertar tão abertamente, mas ele não queria perder tempo. Fingir era cansativo demais e mesmo não querendo admitir, cada flerte que saia de sua boca era como uma traição a Karen.

 

Isabella limpou a garganta desconfortável pela situação e desviou os olhos para outra direção, confusa com as sensações que aquele homem lhe causava. Era estranho, pois Edward parecia ambíguo em suas atitudes. As palavras saiam de sua boca com emoção, porem seus olhos diziam o oposto. Em um momento ele parecia interessado e segundos depois que as palavras saiam de sua boca, seus olhos murchavam e seu corpo retesava.

 

Aquele homem realmente a atraia e seria fácil retribuir seus flertes e quem sabe viver uma aventura, mas Isabella já tinha passado dessa fase. Não queria mais expor seus sentimentos dessa forma, entregar-se de cabeça em algo temporário. Seu coração já fora roubado uma vez e ela aprendeu a lição quando ele também fora quebrado.

 

Ela estava bem consigo mesma. Não queria complicações.

 

E não gostando de sentir-se confusa daquela forma, Isabella decidiu continuar em sua zona de conforto. “Emmett me lembrou ontem sobre o festival da uva que irá acontecer no próximo mês. Você teria interesse em participar? Talvez fosse interessante para sua matéria.” Perguntou e voltou a olhar para Edward.

 

O agente foi pego de surpresa pela pergunta e sentiu-se frustrado ao ver que não estava conseguindo abaixar a guarda de Isabella. Ele leu os olhos dela e viu que eles lhe encaravam com expectativa. “O que acontece nesse festival?” Quis saber posicionando sua máquina fotográfica para tirar algumas fotos das videiras.

 

            “As vinícolas da região expõem seus produtos para comercialização. É bom para angariar novos negócios. Tem músicas típicas, muito vino e comilança.” Disse ela rindo “Tem até mesmo a pisa das uvas ao som da tarantella.”

           

Edward não conseguiu conter a risada ao imaginar-se dentro de uma tina pisando em uvas e dançando ao som da tarantela. Bizarro ao extremo.

 

            “Rosálie e eu cozinhamos alguns pratos típicos para servir com nostri vini. Todos os anos nosso stand faz muito sucesso.”

 

            “Posso imaginar. A lasanha de Rosálie estava muito boa ontem. O que você costuma cozinhar para o festival?”

 

            “Gnocchi ao sugo.” Isabella disse orgulhosa “Todos adoram.”

 

Os dois ficaram em silêncio por um tempo e Edward aproveitou essa brecha para pensar. A situação em que se encontrava não era das mais complicadas, porem ele precisava refletir e tomar decisões importantes. Por mais que quisesse acabar logo com isso o tempo também era seu inimigo.

 

Edward não podia simplesmente sacar sua arma e matar Isabella da noite para o dia. Tinha que pensar com sensatez e agir sabiamente. A única maneira de não levantar suspeitas para si seria criar um álibi. Se conseguisse seduzi-la, criar um “relacionamento” e em um momento oportuno forjar o desaparecimento ou morte dela, as suspeitas não cairiam em cima dele. Afinal de contas, diariamente pessoas desaparecem ou são mortas em assaltos. Fatalidades acontecem.

 

Após ficaria ainda um tempo na Toscana lamentando o ocorrido até a poeira abaixar e quando tivesse certeza de que sua barra estivesse limpa, retornaria para Nova Iorque e esfregaria a morte de Isabella na cara de Aro Volturi.

 

Decidido e satisfeito com seu plano, Edward precisava agora dar inicio a sua missão.

 

            “E se eu ficar para o festival quem me garante que seu Gnocchi é realmente bom?” Edward perguntou sedutor dando uma piscadela para ela e posicionou a máquina fotográfica em direção a Isabella “Posso tirar uma foto sua aqui no meio das videiras? A luz está propicia e ficaria ótima no artigo” Isabella ficou incerta em aceitar o pedido afinal de contas aquilo tudo não era por mérito somente dela “Depois gostaria também de tirar uma da familia toda para colocar na capa.” Ele completou soando profissional.

 

Isabella pareceu convencida e concordou com o pedido, olhando em seguida para sua roupa e verificando se estava apresentável. Enquanto olhava para a camera pensou no que Edward dissera sobre seu dom culinário e, sem conseguir controlar, as palavras saíram de sua boca.

 

            “Eu poderia cozinhar para você provar. Essa noite... No jantar... Em minha casa.”