Capítulo 33 - Revelações Parte 2

EDWARD POV

 

 

Alguém pode, por favor, me explicar o que está acontecendo? Eu não estava compreendendo aquela situação. Em primeiro lugar eu nem queria estar ali e agora que estava algo me dizia que coisa boa não aconteceria. Em segundo quem me convenceu a sair do carro foi a Bella dizendo que seria rápido e, do nada, meus pais se materializam na porta. E terceiro e o pior de tudo é que Bella estava me deixando mais uma vez.

 

Nós tínhamos tanto para conversar e após chamá-la, numa tentativa frustrada para entender aquilo tudo, me deparei com seus olhos marejados e algo dentro de mim pressentiu que ela estava sofrendo. Não sei dizer o que seus olhos me transmitiam de verdade, mas a vontade que tive foi de sair correndo atrás dela e implorar para que ficasse ali.

 

A noite tinha sido maravilhosa. Eu não conseguia para de pensar em tudo que fizemos, todos as palavras ditas, a sensação de amá-la por inteiro. As mesmas dúvidas que estavam em minha cabeça enquanto vínhamos para cá, agora me atormentavam ainda mais e eu me senti triste repentinamente. Será que tudo o que aconteceu para ela foi apenas por impulso? Algo de momento? Não. A minha Bella não agiria assim.

 

Foi uma entrega verdadeira de ambos e agora só nos resta esclarecer tudo. Enquanto me perdia em seus olhos fui desperto por um abraço de meu pai e a conexão do olhar se perdeu. Ele me pedia para entrar naquela casa que há tempos já não considerava como minha, mas antes de fazê-lo busquei ajuda novamente, olhando para trás e desejando que Bella estivesse perto de mim. Suspirei ao ver que ela já não estava mais ali.

 

Resignado com tudo aquilo dei um passo a frente, inseguro e com medo do que poderia acontecer. Uma coisa eu captei. Meus pais estavam juntos ali e me perguntei como eles ainda não estavam discutindo. Escutei o barulho da porta atrás de mim e senti as mãos de minha mãe em meu braço, me empurrando sutilmente em direção a sala de estar.

 

            - Venha meu filho. – minha mãe apontou para o sofá – Vamos nos sentar.

 

            - Mãe o que está acontecendo? Eu preciso falar com a Bella e... – ela me interrompeu com um meio sorriso.

 

            - Calma, Edward. A Bella logo se juntará a nós. – dizendo isso ela olhou em direção a cozinha e só então percebi que Alice estava ali. Seu olhar em minha direção era intenso e seu rosto tinha traços de preocupação. Será que morreu algum parente? Por isso todos estão com essas caras?

 

            - Eu vou atrás dela. – Alice avisou e logo desapareceu. Eu já estava sentado no grande sofá da sala olhando para casa com saudade. Mesmo termos nos mudado há pouco tempo para cá eu gostava dali. Meu pai quando resolveu comprá-la tinha em mente adquirir uma residência mais afastada da agitação e que nos aproximasse da natureza e essa casa era perfeita nesse sentido. Toda região era cercada por árvores e o pátio dos fundos tinha uma área de lazer maravilhosa, com uma piscina grande, um deck esportivo e um espaço gourmet para recepcionar e preparar refeições ao ar livre. Olhei em direção a escada que dá para o segundo andar e suspirei nostálgico lembrando do meu quarto, do meu canto.

 

Naquele quarto de hotel eu tinha paz por não precisar mais presenciar as atitudes do meu pai. Eu não o via mais chegar em casa como um furação, quase sempre alcoolizado e alheio ao que acontecia ao seu redor. Eu não precisava mais chamar sua atenção para nós, eu não precisava sofrer mais, no entanto eu ainda sofria. Sofria por estar longe da minha família, de um lar.

 

Aquele ambiente da casa também me trouxe recordações tristes e automaticamente lembrei-me da briga que meu pai e eu tivemos. Por diversas vezes quando estava sozinho fiquei refletindo sobre tudo que já fiz. Pensei em todas idiotices que já aprontei e nas decepções que causei aos meus pais. Eu sei que já apontei o dedo muitas vezes para o meu pai, mas não sou hipócrita ao ponto de não admitir todos os erros que também já cometi. Um belo exemplo de comparação é a Bella. Poxa, ela perdeu a mãe com dez anos de idade e se viu numa situação difícil. Tinha uma irmã pequena para amparar e dar forças ao seu pai para superar tudo aquilo. Ela podia muito bem ter chutado o balde e se revoltado por ter que assumir responsabilidades naquela época, mas ela não o fez e eu a admiro muito por isso. Já eu não consegui agüentar tanta pressão.

 

Eu tentei, muito. Apoiei meus irmãos, sempre estive ao lado deles quando meu pai simplesmente deletava da memória a nossa existência e procurei ser um bom filho, mas nada disso foi suficiente.

 

            - Mãe? – olhei para ela que estava em pé ao lado do sofá. Ela sorriu e sentou-se ao meu lado. – Aconteceu algo com alguém da família? Porque vocês estão com essas caras? E... O que você está fazendo aqui? – A enchi de perguntas ansioso e apreensivo ao mesmo tempo.

 

            - Meu querido. – ela acariciou meu rosto e segurou minhas mãos – Não aconteceu nada com ninguém e respondendo a sua última pergunta... – ela suspirou e abaixou o olhar – Eu voltei para casa. – Eu olhei para o meu pai e ele estava parado perto de nós. Ele parecia preocupado, mas por quê?

 

            - Você voltou para ficar? – indaguei receoso. Não queria parecer grosseiro com minha mãe, no entanto aquilo era uma surpresa para mim.

 

            - Sim para ficar Edward. – ela me olhou novamente e eu sorri fracamente para ela.

 

            - Então vocês dois se acertaram? De verdade? – foi bom ouvir aquilo, mas eu precisava entender os motivos pelo quais eles se separaram por todo esse tempo e como que de uma hora para outra se resolveram.

 

            - Sua mãe e eu nos acertamos de verdade filho. – meu pai se pronunciou e lentamente sentou-se numa poltrona próxima ao sofá que eu estava sentado. – Mas nós te contaremos tudo o que aconteceu. – ele respirou fundo – Eu sei que você tem muitas dúvidas e sei também que possivelmente você possa nos odiar por isso, porém sua mãe e eu precisamos te contar toda a verdade. – seu olhar não desgrudava do meu e ao mesmo tempo eu sentia as mãos de minha mãe me afagando – Não queremos mais segredos entre nós Edward. Manter esses segredos já causou muito mal a nossa família e agora é à hora de deixar tudo claro entre nós.

 

Segredos? O que eu poderia não saber em relação a eles? Claro, eu não sabia do motivo da briga que os separou, mas para mim sempre pensei em ciúmes da parte de meu pai, traição ou até mesmo o desgaste da relação. Isso não é um segredo para mim, cabe somente a eles saber o que se passa no casamento deles.

 

            - Eu... Eu fico contente que vocês estejam bem. – eu sei que isso saiu como uma cobrança porque dentro de mim eu estava mesmo contente em saber que minha mãe voltou para casa e agora estaria mais presente em nossas vidas, mas eu não estava bem com tudo isso, como pessoa.

 

            - Seu pai e eu também estamos felizes com isso Edward, mas me parte o coração toda a situação em si. – minha mãe disse e olhou para meu pai – Hoje eu prometi para mim mesma que faria minha família se unir novamente. Eu sei que muitas palavras foram ditas, muitas atitudes o machucaram... – eu abaixei a cabeça e suspirei – Mas nós estamos tendo a oportunidade de deixar tudo isso para trás e começar de novo.

 

Eu não entendia o que mamãe queria dizer com isso. O casamento deles voltou ao normal... Ótimo! Mas a relação entre meu pai e eu com certeza não voltaria.

 

            - Edward eu sei que não tenho esse direito, mas eu te peço uma coisa filho. – meu pai começou – Nos deixe contar tudo o que passamos e nossos motivos. - eu assenti francamente – Normalmente dizem que devemos começar pelo começo, mas para você entender tudo eu vou contar como alguém muito especial abriu meus olhos. – ele pausou e depois olhou em meus olhos - Sabe Edward, quando sua mãe e eu brigamos simplesmente perdi meu chão, minha pilastra de sustentação. Eu sei que você sabe como é isso. Eu sei o que a Isabella representa para você. – eu franzi o cenho. Por que ele está falando na Bella?

 

            - O que a Bella tem a ver com tudo isso? – indaguei e busquei os olhos de minha mãe.

 

            - Tudo, filho. – ela respondeu e sorriu – Isabella é a grande responsável por seu pai e eu termos nos entendido.

 

            - Mas como?

 

            - Bella ama demais você Edward. E foi por esse amor que ela um dia me procurou em São Francisco.

 

O que? A Bella em São Francisco? Mas ela nunca me disse nada.

 

            - Eu a conheci no domingo após o aniversário de Alice. Ela veio aqui em casa me conhecer assim como a Rosalie e o Jasper. Eu não sabia que vocês tinham tido algo, mas pude ver no rosto dela o quanto gostava de você. Antes de ir embora ela comentou que um parente estava reformando a casa e pediu um cartão meu para recomendar meus serviços de decoração e arquitetura. Algum tempo depois ela me surpreendeu ao aparecer em meu escritório. Ela me contou o que havia acontecido entre você e seu pai e que estava muito preocupada com você. Eu a admirei por isso. Bella me pediu para voltar para casa e tentar reverter a situação, mas eu não podia – ela olhou para meu pai – Contei a ela meus motivos e a partir desse dia ela se propôs a me ajudar.

 

Espera... Se ela procurou minha mãe um tempo depois do aniversário da Lice então foi quando não estávamos juntos. Por que ela faria isso? O que minha mãe disse fazia sentido. Eu senti na minha festa de aniversário que Bella e a mamãe se deram bem, bem até demais devo dizer.

 

            - De que forma ela te ajudou mãe? Por que eu não fiquei sabendo disso?

 

            - Ela tinha receio de te contar e ela achava que quem deveria fazer isso era seu pai e eu. Eu não tiro a razão dela afinal de contas nós que somos responsáveis pelas atitudes que tomamos. Bella queria te proteger e ajudar a todos. – eu podia sentir como minha mãe estava nervosa então acariciei sua mão num sinal para que ela continuasse - O nosso casamento nunca foi fácil. – minha mãe disse suspirando profundamente – Seu avô nunca me aceitou, mas seu pai sempre esteve ao meu lado e o enfrentou.

 

            - Seu avô filho nunca me deixou em paz. – meu pai comentou com amargura - Depois que nos casamos ele disse para mim que eu não seria feliz com minha família e de fato ele fez de tudo para que isso acontecesse. O pior de tudo é que ele sempre me manipulou, desde pequeno. Eu lutava contra ele, porém foi em vão. Eu fiz tudo o que ele queria até mesmo cursar medicina, mas quando eu conheci sua mãe e me apaixonei prometi a mim mesmo que nunca mais o deixaria se intrometer em minha vida.

 

            - E seu pai lutou contra ele Ed. Por um tempo ele percebeu que não nos deixaríamos abater e nos deixou em paz. Até que seus negócios começaram a decair e ele precisava resolver isso. Eu não sei se você lembra da família Rosenberg, que freqüentava algumas festas em nossa casa? – eu assenti – Essa família era muito poderosa e seu avô achou por bem e para salvar os negócios, me separar de seu pai e fazê-lo se casar com Cristine, filha mais nova do casal Rosenberg. Seu pai o repudiou por somente cogitar essa idéia e seu avô se viu de mãos atadas.

 

            - Então ele não conseguiu o que queria. O que aconteceu para separar vocês? – eu questionei aflito por tudo que ouvia. Minha mãe olhou com preocupação para meu pai.

 

            - Uma pessoa do passado de sua mãe a procurou e começou a chantageá-la. – meu pai disse com rancor na voz.

 

            - Eu tive muito medo filho. Eu sei que foi errado, mas, por favor, entenda minha aflição. – ela apertou minhas mãos mais ainda e seus olhos ficaram marejados. O que poderia ser tão ruim para deixá-la assim?

 

            - Calma Esme. - Meu pai se levantou e sentou ao lado dela beijando sua testa. Era estranho ver esse carinho entre os dois. Eu já havia esquecido como era isso e por incrível que pareça me trouxe recordações boas naquele momento de apreensão.

 

Minha mãe algumas vezes comentou sobre o fato de meu avô ser contra seu casamento com meu pai, mas nunca imaginei que chegaria ao ponto de armar um casamento somente para ajudar em seus negócios.

 

            - Mãe o que foi que essa pessoa fez? Quem era ela? – perguntei ansioso ao ver que ela chorava. Meu pai viu que ela não conseguia prosseguir então resolveu continuar. Seus olhos me transmitiam pesar e me perguntei o porquê disso?

 

            - Quando eu ajudei sua mãe Edward, desde a primeira vez que a vi senti que ela seria a mulher da minha vida. Eu não sei explicar como só... Sabia. – Eu sei como é. Fiquei tentado a dizer, mas me calei. – Ao prestar os primeiros socorros sua mãe passou por uma bateria de exames. Precisávamos saber se ela era alérgica algum tipo de medicamento e se não corria algum risco. – ele beijou o topo da cabeça dela e se levantou – Eu ainda descobri algo que me deixou apreensivo no começo, porém depois foi o que me fez lutar para manter sua mãe viva e bem. – ele disse de costas para nós dois. – Sua mãe não estava sozinha naquele dia filho.

 

Como assim não estava sozinha? Pelo que mamãe contava seus pais eram falecidos e ela só tinha uma irmã mais nova. Era ela quem estava com a mamãe?

 

            - Quem estava com ela pai? – nesse instante eu percebi a presença de Alice e Emmett na sala e a baixinha sentou do meu lado direito e me abraçou pela cintura. – Pai quem estava com ela? Alguém que fez mal a mamãe? – meu pai sentou-se a poltrona próxima a nós novamente e passou a mão nos cabelos nervosamente. Minha mãe ainda chorava silenciosamente e meus irmãos me olhavam com preocupação.

 

Mas que droga é essa? O que é tão importante para eles não me contarem logo?

 

            - Você estava com ela Edward. Você. – meu pai soltou num único fôlego e eu me calei. Senti minha irmã me apertar ainda mais no abraço e foi ai que tive a reação de questionar todo aquele disparate.

 

            - E-eu? Mas... Como? Vocês nem se conheciam ainda. Não pode ser. – falei olhando de um para o outro. Eles estavam mentindo. Não... Não podia ser.

 

            - Eu carregava você em meu ventre meu querido e seu pai salvou a nós dois naquele dia. – minha cabeça começou a girar e meu estomago protestou. Naquele instante eu parei de sentir tudo a minha volta. – Eu não sabia que estava grávida e seu pai me deu muito apoio. Nós nos apaixonamos e seu pai o assumiu com muito amor e carinho. Um dos motivos por seu avô não querer nosso casamento era por eu estar grávida de outro homem, porém seu pai o protegeu com unhas e dentes e o reconheceu como dele quando ainda estava aqui dentro. – ela tocou sua barriga e em seguida limpou as lágrimas que caiam de seu rosto.

 

Eu não era filho do meu pai? Eu não era filho do meu pai?

 

            - A pessoa que procurou sua mãe Edward foi seu pai verdadeiro. – eu olhei para meu pai sentindo um nó na garganta. Ele é meu pai verdadeiro. É o único pai que eu conheço – Veja... Nós tínhamos intenção de contar a você sobre isso, mas naquela época achávamos que você ainda era muito pequeno para entender. Seu pai verdadeiro usou desse fato para chantagear sua mãe. Ele também estava envolvido com a irmã de Esme e os dois eram usuários de drogas. Ele a ameaçou dizendo que contaria toda a verdade a você e usou a irmã dela, dizendo que tinha dividas com traficantes e exigiu dinheiro para ficar calado.

 

            - Eu tive medo filho. – minha mãe disse – Medo de que você não aceitasse a verdade e temi pela minha irmã. Nós éramos tudo uma para outra, não tínhamos mais ninguém no mundo. Na verdade ela não tinha porque eu tinha seu pai em minha vida. Eu me senti na obrigação de ajudá-la e proteger você. Esse foi o pior erro da minha vida. – mais lágrimas saiam de seus olhos - Seu pai e eu tínhamos uma conta conjunta e eu decidi por retirar algum dinheiro e entregar ao Joshua, só que nisso eu cometi mais um erro. Eu sabia que se contasse ao seu pai o que estava acontecendo ele não deixaria que eu ajudasse minha irmã, então escondi tudo dele. Eu pensei que com isso eles nos deixariam em paz, mas ele sempre voltava pedindo por mais.

 

Não conseguia ter reação nenhuma. Eu só escutava e minha cabeça filtrava as palavras ditas fazendo com que eu imaginasse tudo aquilo, como se fosse um filme diante de meus olhos. Era surreal.

 

            - Em um desses encontros... – minha mãe continuou – Seu avô me viu com Joshua e resolveu contratar um investigador para descobrir o que estava acontecendo. Esse investigador tirou fotos nossas e pagou Joshua para ele contar tudo o que eu fazia. Seu avô usou isso para me chantagear e disse que se eu não me afastasse de seu pai ele contaria toda a verdade a Carlisle, mas faria passar por uma traição dizendo que éramos amantes e eu o sustentava. Ele disse também que tiraria vocês de mim. – ela respirou fundo tentando conter o choro - Resignada eu resolvi me afastar. Eu não queria que nosso lar fosse desfeito e sabia que estariam bem ao lado do pai de vocês, mas a dor da distância me fez voltar e foi ai que tudo se perdeu.

 

            - Seu avô me mostrou as fotos e eu acreditei em suas palavras. – meu pai disse olhando em meus olhos – Eu fiquei sem saber o que fazer afinal de contas tudo ia contra sua mãe. Eu cheguei até a ir atrás do tal investigador, mas meu pai havia o subornado para manter a mentira de que eles eram amantes. Foi então que eu perdi tudo. Eu fiquei desnorteado e sua mãe e eu brigamos. Depois disso as coisas só pioraram.

 

            - Filho, seu pai queria ter lhe dito toda a verdade na noite que discutimos, mas eu o impedi. Nada justifica, eu sei. Fiz por ser fraca e estar com raiva dele por não ter acreditado em mim. Eu estava cega e não conseguia enxergar que eu também estava errada. Eu disse que te levaria comigo e sumiria se ele o fizesse e por esse motivo ele se calou. Seu avô acabou instruindo seu pai a se proteger de qualquer ato meu e me proibiu de ver vocês alegando que eu tinha sido infiel. Nós queríamos nos ferir de alguma forma e eu acatei sua decisão para não machucar vocês, só pedindo a ele que me deixasse os ver em momentos especiais.

 

Se eu me sentia quebrado por dentro antes, agora o meu estado só tinha piorado. Eu tinha acabado de escutar que não era filho legitimo da única pessoa que eu conhecia como pai e que por esse motivo meus pais haviam se desentendido. Por minha causa minha mãe foi chantageada, por minha causa meu pai acreditou em uma mentira.

 

Eu entendi que eles queriam me contar a verdade e entendi também o motivo por não terem o feito. O medo da minha rejeição. Do abandono. Da perda. Talvez naquela idade eu de fato não soubesse aceitar isso bem. Eu nunca vou saber como seria e nem meu pais. Não que eu esteja aceitando bem agora, mas tudo se somou dentro de mim.

 

As palavras de meu pai faziam total sentido agora. Eu fui um problema para eles e meu pai tinha raiva de mim por isso. Doeu em meu coração lembrar dele me chamando de bastardo. Ele me via como tal porque me culpa por tudo o que aconteceu.

 

            - Depois que sua mãe se foi eu confesso que fiquei amargurado com tudo, fui fraco e me deixei levar pelo pessimismo e fiz isso refletir em vocês três. – meu pai levantou e começou a andar de um lado para o outro nervosamente – Eu fiz com você Edward tudo o que sempre repudiei em meu pai. Eu não te apoiei, não te escutei e ainda o machuquei demais. Eu sempre amei tanto você, mesmo quando ainda estava na barriga de sua mãe. Você sempre foi meu filho, eu nunca te vi de outra forma. O que me consumiu de verdade foi a raiva e eu não nego isso. Raiva por aquele infeliz causar tudo isso em nossa vida, raiva do meu pai por me manipular e raiva por não ter cuidado de vocês quando mais precisavam. Na minha cabeça, por estar perdido com toda a situação, eu entendia que quem precisava de atenção era eu, não vocês. Que quem precisava de amor, de carinho, de um ombro amigo era eu. E por egoísmo, medo, fraqueza, eu joguei todas as minhas frustrações em cima de você. Edward você sempre tentou conversar comigo, me mostrar que o que fazia estava errado, mas eu nunca dei o braço a torcer. Eu errei muito com você e te peço perdão meu filho.

 

Ao terminar de escutar meu pai falar senti algo cair em meus braços e só então percebi que chorava. Era um choro sofrido, calado que estava abafado pelo nó que sentia na garganta e por sentir meu peito sufocado com tudo aquilo. Eu sempre desejei escutar isso do meu pai, mas nunca pensei que fosse doer tanto.

 

            - Eu sei que não vai ser fácil receber o seu perdão, mas eu prometi a mim mesmo que irei passar minha vida inteira tentando, Edward. Nem que eu tenha que ir ao inferno para conseguir que você pelo menos me aceite em seu coração novamente. Eu quero você de volta nessa casa, onde meus olhos possam cuidar de você meu garoto, porque desde o dia em que eu pedi que saísse dessa casa meu coração morreu. Todos os dias que eu via você naquele hotel meu coração se apagava cada vez mais. Pedaço por pedaço. Por diversas vezes eu senti vontade de procurar você e te pedir perdão, mas eu tinha medo da sua rejeição. Eu já o havia magoado tanto que tinha receio que você me tirasse da sua vida para sempre. – meu pai se ajoelhou em minha frente e secou minhas lágrimas que não paravam de cair. – Eu sei que te disse muita coisa que feriu seu coração. Não foi para te magoar Edward. Eu estava tão cego pela amargura que queria que alguém sentisse o mesmo que eu, que sofresse como eu. Como você estava sempre ao meu lado, cuidando de mim nos momentos mais vergonhosos que um homem pode passar, acabei descarregando em quem menos merecia. – ele respirou fundo e sem conseguir controlar, começou a chorar - Me desculpe filho por não te apoiar quando você precisou, me desculpe por não ter sido um pai exemplar. Eu sempre quis o seu melhor e acabei falhando com você.

 

Eu não sabia o que fazer diante daquilo tudo. Meu corpo não conseguia responder provavelmente por estar em choque. Meu pai percebendo minha reação beijou minha testa e se levantou limpando as lágrimas de seu rosto e me olhando com apreensão.

 

Sentia vontade de gritar, espernear e dizer muitas coisas aos dois, mas meu peito doía tanto que eu não tinha forças para fazer isso. Eu acredito que isso seria um reflexo natural, no entanto eu já havia sofrido muito com tudo e eles também. Seria injusto de minha parte. Pode não parecer aos olhos do outros, mas passar por tudo isso me fez amadurecer mais do que eu mesmo esperava. Não ia adiantar nada eu gritar com eles e julgá-los pelos erros que cometeram. O tempo não ia voltar. O que foi feito, estava feito. Ninguém mudaria isso.

 

Eles deveriam ter me contado a verdade há mais tempo? Sim, deveriam. Porém eu me coloquei no lugar dos dois. E se fosse eu? Se fosse um filho meu? Eu sei que meu pai me considera como filho. Antes de tudo isso acontecer ele sempre foi um ótimo pai. Carinhoso, atencioso e estava sempre ao nosso lado para o que precisávamos. Doeu saber que ele não é meu pai legitimo? Doeu, muito. Mas pai é aquele quem cria.

 

Tudo o que ele fez e disse me machucou de uma forma que nem sei como explicar. Foi algo que atingiu minha alma porque para mim ele era minha referência. Muitos filhos têm seus pais como seus heróis e comigo não foi diferente. E ver essa imagem de herói desaparecer foi o que mais me magoou. Eu não sei quando nem como meu coração irá se curar disso, mas penso que um dia acontecerá. Um dia eu terei filhos e só de pensar em um filho meu sentindo o mesmo que sinto pelo meu pai me fez chorar ainda mais. Eu não queria machucá-los mais. Como minha mãe disse o momento era para nos unir e deixar os segredos e tudo o que nos separava para trás.

 

As palavras que Bella havia me dito antes de eu entrar em casa vieram em minha cabeça: “Abra seu coração e seja feliz, meu amor”.

 

            - Eu só queria o melhor para você pai. – falei tirando forças ao lembrar dela e tentando controlar meu choro - O melhor para nossa família. Eu sei que também errei muito com vocês. Eu também fui egoísta. Eu via que você estava sofrendo pelo seu casamento só não entendia os motivos por terem se separado. Eu tentei ajudar, mas vendo que nada do que eu fazia bastava resolvi fazer igual a você. Eu fiz todas aquelas bobagens para te atingir, para chamar sua atenção porque você é o nosso pai. No meu entendimento naquela época, os pais não podiam sofrer. Eles tinham que ser cem por cento só para os filhos. Eu também fui fraco, mas eu aprendi com isso. Eu sai dessa casa por que me doía ver seu sofrimento e inconscientemente eu pensei que você estava assim por minha causa. Eu me senti rejeitado e achava que não pertencia a essa família.

 

            - Não diga isso nunca. – meu pai me repreendeu olhando em meus olhos.

 

            - Eu entendo que não foi intencional, mas eu senti. Senti que era um problema em sua vida. – eu respirei fundo e continuei - Não posso te dizer quando vai acontecer, mas um dia esse sentimento vai sair de dentro de mim. – finalizei com dor no coração. Eu não queria mentir. Não podia dizer que estava tudo bem porque não estava... Ainda.

 

Minha irmã que estava ao meu lado beijou meu rosto e eu pude sentir que ela também chorava. Emmett sentou ao lado de minha mãe e colocou suas mãos juntos com as minhas em sinal de apoio. Eu sorri para ele e vi que o grandão também tinha lágrimas nos olhos. Minha mãe não soltou minhas mãos um só instante e num ato carinhoso ela me abraçou apertado.

 

            - Eu vou esperar o quanto for preciso Edward – ela disse chorosa – Eu entendo que não é fácil, mas vou esperar ansiosa o dia em que você nos perdoara de verdade. Não esqueça nunca que todos nós te amamos muito meu querido. – ela disse beijando minha testa.

 

            - Eu sei mãe, eu sei. – olhei para o meu pai e ele nos fitava com pesar e sofrimento. Eu não seria egoísta novamente, não erraria por orgulho.

 

Eu beijei minha mãe no rosto e me levantei. Não sabia muito bem o que fazer então deixei meu coração me levar e falar por mim.

 

            - Eu não quero saber quem é meu pai verdadeiro, porque esse eu só tenho um. Eu não quero mais sentir essa dor dentro de mim. Isso só me faz mal. Eu brigo contra esse sentimento todos os dias. Pode não parecer, mas aquele dia na minha festa de dezoito anos eu sei o quanto sincero foi o seu gesto. Ali eu entendi que você queria o meu bem. – eu pausei respirando fundo - Às vezes não conseguimos externar os sentimentos, por medo como foi o seu caso, mas de uma forma ou de outra acabamos demonstrando isso. Eu nunca deixei de te amar por isso pai. – ao terminar e sem esperar essa reação meu pai veio em minha direção e me abraçou forte, tão forte que quase sufoquei.

 

Não sei quanto tempo ficamos ali abraçados. O tempo não parecia importar porque eu me sentia bem por ter colocado tudo para fora. Sentia-me mais leve. Não por completo, mas uma parte dentro de mim já conseguia se recuperar.

 

            - Eu também amo você filho. Muito mesmo. – meu pai disse ainda abraçado a mim.

 

Meu único pesar naquele momento era de não ter Bella ali ao meu lado e isso me fez lembrar do que mamãe havia dito.

 

            - Mãe... – me soltei do abraço de meu pai e virei para fitá-la – Cadê a Bella? Você não disse que ela estaria aqui? – ela olhou para Alice e minha irmã abaixou o olhar. Eu precisava fazer perguntas a ela e tirar esse peso do peito. Eu já havia sentido isso antes uma vez e não foi nada bom.

 

            - Ela não quis ficar Ed. – Alice disse e meu coração se apertou. Foi inevitável. Me senti traído. Talvez se ela estivesse ali ao meu lado não me sentiria assim. Na verdade eu precisava da força dela, do seu apoio.

 

            - Como ela fez tudo isso? – olhei para o meu pai e ele me pediu para sentar novamente.

 

            - Sua mãe contou a ela sobre tudo. Primeiramente ela me procurou no hospital e tentou abrir meus olhos, mas eu a destratei e não dei ouvidos ao que falava. Ninguém conseguiria me fazer pensar o contrário então ela resolveu ir atrás do investigador que meu pai havia contratado. Tem um amigo dela, o Bruno, que tem um primo que trabalha na policia da Califórnia e conseguiu os dados e o endereço dele. Ela me contou que tentou conversar com ele por telefone, mas foi em vão. Depois desse telefonema ela disse que alguém tentou machucá-la. – meu pai me olhou preocupado – Ela disse que foi empurrada na calçada, num dia em que vocês dois estavam juntos e quase um carro a atropelou.

 

            - O que? – meu ar faltou ao ouvir aquilo – Alguém a empurrou naquele dia?

 

            - Sim filho e pediram que ela ficasse quieta a respeito de tudo. A Bella não satisfeita resolveu ir para Califórnia encontrar com o tal investigador e pediu que o Bruno fosse com ela. Eles gravaram toda a conversa. Na noite em que ela sofreu o acidente estava indo me entregar a fita e tudo nos leva a crer que alguém provocou o acidente.

 

Minha cabeça girou novamente e meu estomago se revirou. Ela fez tudo isso se arriscando dessa forma? O Bruno estava a ajudando?

 

            - Ela não pode ficar desprotegida. Alguém pode fazer mais mal ainda a ela. – me levantei atordoado.

 

            - Calma, Edward. Eu contratei alguns seguranças para cuidar dela e para proteger nossa família. Ninguém vai se atrever a nos fazer mal novamente.

 

            - Eu preciso ver se ela está bem. – falei me direcionando a porta de casa.

 

            - Filho você não pode sair nesse estado. Nós ainda precisamos te contar mais uma coisa. – minha mãe veio ao me encontro e segurou meu braço.

 

            - Eu tenho que vê-la mãe. Eu prometo que volto para conversarmos mais. Nada do que me disserem agora será bem recebido. Eu preciso saber que ela está bem, entendi? – ela assentiu e sorriu pelo meu desespero. Meu pai também estava ali ao meu lado junto com meus irmãos.

 

            - Eu sei onde ela está e te levo lá. O Emm segue a gente e depois me trás de volta. Você não vai dirigir nesse estado Ed. – minha irmã informou já pegando as chaves do carro. Eu concordei meio contrariado, afinal se ela sabia onde a Bella esta não podia fazer muito a respeito. Abracei meus pais com o coração mais leve, porém aflito. Entramos em meu carro e saímos rapidamente dali.

 

            - Vê se dirigi com cuidado heim baixinha. – minha irmã mostrou a língua para mim e apertou minhas bochechas.

 

            - Estou orgulhosa de você. – ela disse e eu sorri. – Você recebeu isso melhor do eu Ed. Juro que tive medo da sua reação. Você é um exemplo para mim e tenho certeza que para o Emm também. Eu sei que não é fácil, mas você se deu a chance de mudar tudo e isso é maravilhoso.

 

            - Obrigada Lice.

 

            - Não é a mim que você tem que agradecer e sim a Bella. Ela que fez tudo isso acontecer Ed, por você e por todos nós.

 

            - Minhas mãos estão suando. Eu fico me perguntando o porquê dela não ter ficado ao me lado. Eu entendi que aquelas ideias entre o Bruno e ela eram idiotices minhas, mas eu sinto que tem algo a mais... Algo que nos impedi de ficar juntos, sabe? – minha irmã respirou fundo e ficou calada por alguns minutos.

 

            - Ed eu preciso te contar uma coisa.

 

 

BELLA POV

 

Assim que entrei no quarto do hotel o cheiro dele tomou conta das minhas narinas e logo meu coração bateu mais forte. Eu só pensava em me inebriar com esse cheiro a noite toda. Deixei minha bolsa em cima do sofá e resolvi tomar um banho. Tirei minhas roupas, liguei o chuveiro e ao entrar no Box não contive um sorriso ao perceber que meu shampoo ainda permanecia ali. O cheiro amadeirado dele ainda estava em meu corpo e sorrindo ainda mais lembrei detalhes da nossa noite. Ele me amando, me preenchendo e dizendo que me amava.

 

Eu não queria pensar no pior, mas inevitavelmente pensei se aquela seria a primeira e última vez que nos amamos. Eu tinha essa incerteza porque não sabia como ele agiria e se poderíamos ficar juntos definitivamente, pois Carlisle ainda não havia comentado sobre o pedido que fiz a ele.

 

Terminei meu banho, passei meu desodorante – que também estava ali – E fui até o guarda roupa dele. Eu sei que pode ser muita intromissão minha, mas eu queria ter o máximo dele perto de mim então peguei uma camiseta e uma calça de moletom dele, dobrando a minha roupa e a coloquei em cima do sofá.

 

Bom agora que eu estou aqui irei fazer o que de bom?

 

Decidi por deitar na cama, e abracei seu travesseiro ligando a TV em seguida. Rodei por alguns canais, mas nenhum deles chamou minha atenção. Minha atenção estava em inspirar e expirar o cheiro dele que estava impregnado naquele travesseiro.

 

Após um tempo assim peguei meu celular que estava dentro da bolsa e verifiquei se tinha alguma ligação. Nada.

 

Rá Bella! Só porque você quer ele ligaria pra você. Ele deve estar te excomungando nesse momento.

 

Suspirei frustrada e resolvi ligar para o meu pai. Avisei que passaria a noite na casa da Alice. Não estava com animo para contar a verdade a ele. Deitei novamente e teimei em prestar atenção em algo útil e acabei adormecendo.

 

Não sei quanto tempo se passou, mas fui desperta pelo barulho de chave da porta e me sentei rapidamente na cama.

 

Ah Céus!

 

Levantei num átimo com o coração disparado. Arrumei meu cabelo que provavelmente estaria parecendo uma juba de leão e ainda com o coração batendo alucinado, criei coragem de levantar o olhar em direção a porta. Em minha cabeça eu havia simulado esse encontro por diversas vezes, mas não achei que ele estaria aqui tão cedo. Eu pensei que ele ficaria em sua casa, com sua família e que teria tempo de me despedir das lembranças que tenho de nós aqui. É claro que das vezes que pensei nesse encontro quase todos eles acabavam com eu e ele nos beijando e fazendo as pazes, e bem que agora eu poderia mudar isso e pensar em nós dois nos amando, porém ao encontrar aqueles olhos verdes, que foram minha perdição desde o primeiro momento que os vi, meu corpo inteiro se arrepiou. Não era o arrepiou característico que eu sentia perto dele, era um arrepiou frio e sem vida.

 

Edward fechou a porta atrás de si e deu dois passos em minha direção. Eu comecei a suar frio pela aflição do momento. Eu não sabia se dizia algo ou se era melhor ficar calada. Eu era uma intrusa ali. Ele no mínimo quer me colocar para fora desse quarto de hotel. Suspirei longamente sem nunca deixar seus olhos e senti o característico nó na garganta se fazer presente. Eu não queria chorar, mas não consegui segurar mais.

 

            - Você mentiu pra mim Bella. – ele disse e meu coração se apertou fazendo com que as lágrimas caíssem sem minha permissão.