Capítulo 6
"A confiança que temos em nós mesmos, reflete-se em grande parte, na confiança que temos nos outros."
"Você tem que ir Bella. Eu preciso de você lá." Eu suspirei escutando a súplica na voz de Edward "Não vai ser o mesmo sem você." Ele continuou e eu fechei meus olhos sorrindo igual uma boba.
Edward havia se tornado mestre na arte de derreter meu coração e meus medos.
Hoje fazem quatro meses desde que começamos nossa amizade. Quatro meses que Edward e eu nos tornamos inseparáveis. Nesse tempo eu descobri muitas coisas sobre ele e inevitavelmente acabei me apaixonando por cada uma delas. Eu não consegui controlar meu coração.
Como eu poderia?
Eu sei que ele nunca vai me olhar dessa forma, mas tudo bem. Não é a primeira vez que isso acontece. Talvez eu esteja fadada a sempre me apaixonar por alguém que nunca vai ser meu de verdade.
Hunf!
Quem se apaixonaria por alguém como eu? Sem graça, timida, longe de ter um corpo esbelto e sem açucar.
Eu grunhi internamente, lembrando das palavras do meu terapeuta.
"Bella a unica maneira de você superar tudo isso é começar a aceitar quem você é. Se você mesma não se gosta, quem vai gostar?" Ele pausou largando sua caneta e bloco de anotações na mesa ao lado "Eu sei o quanto essa experiência foi dura para você, mas leve isso como um aprendizado. Não se importe com a opinião dos outros, esteja bem consigo mesma. Você conseguiu superar essa doença, perdeu peso, mas o que isso mudou?"
Dr. O'Connor sempre tocava nesse ponto em nossas sessões e a resposta sempre era a mesma.
"Nada." Eu respondi sentindo um aperto no peito por segurar meu choro "Será que algum dia isso vai passar?" Perguntei pela primeira vez querendo uma resposta sincera dele.
Dr. O'Connor suspirou e eu busquei seus olhos querendo ver ali uma resposta para meus medos "A partir do momento que você estiver disposta a deixar isso tudo para trás. Só então tudo isso vai passar."
Lembrar das nossas sessões era um exercicío diario. Não é fácil. Tem dias que eu sinto medo até mesmo de sair do meu dormitório e enfrentar as pessoas. Magicamente quem tem me ajudado sem ao menos saber é Edward. Ele está sempre por perto, sempre arranjando coisas novas para fazermos. Parece até mesmo que ele pressenti os dias em que eu estou assim. Eu estou feliz com a decisão de tê-lo deixado entrar na minha vida.
Eu sorri involuntariamente.
Edward é uma pessoa maravilhosa. Ele tem um coração de ouro, é um amigo que topa qualquer coisa por você, é inteligente e tem boa conversa, e sem contar sua beleza exterior e interior. Só isso já o torna especial, mas além disso tudo Edward é apaixonado pela música.
A visão mais linda que já vi nesses ultimos meses foi quando Edward tocou para mim pela primeira vez. Sabe aquela sensação que sentimos quando escutamos uma música e ela te toca de uma maneira inexplicavel e chega até mesmo te arrepiar? A voz dele tem um timbre tão suave e melódico que toda vez que a escuto meu coração acelera e meu corpo todo reage de forma estranha. Parece que meu corpo inteiro reconhece aquilo que sinto em meu coração.
"Você faz parte disso também, Bella. Se não fosse por você talvez eu nunca mais voltasse a tocar. Eu... Preciso de você comigo." Eu odiava escutá-lo tão inseguro e vulnerável. São nesses momentos que eu acabo vendo meu próprio reflexo nele.
Na noite em que o escutei tocar pela primeira vez estavamos em seu dormitório assistindo um filme qualquer.
"Aquela guitarra é sua?" Perguntei curiosa ao ver uma guitarra encostada na parede perto da cama.
"Ah... É." Ele respondeu franzindo o cenho e olhando para ela "Eu esqueci de guardá-la." Disse levantando-se do pequeno sofá que tinha ali e pegou a guitarra bruscamente.
"Por que não me contou que toca?" Questionei estranhando ao vê-lo guardá-la no fundo do guarda roupa.
"Porque eu não toco." Respondeu simplesmente e voltou a sentar ao meu lado.
"Então por que tem uma guitarra?" Eu me virei de lado para olhá-lo melhor. Edward suspirou alto e me ignorou por alguns segundos antes de responder.
"Eu... Não toco mais. Eu nem sei porque ainda continuo com essa porcaria." Sua frustração era obvia em cada palavra e eu me vi ainda mais curiosa. Eu esperei que ele elaborasse, mas minutos se passaram e ele não disse mais nada.
"Você não gosta mais ou..." Eu soprei a pergunta no ar, deixando que ele decidisse se queria ou não compartilhar isso comigo.
Olhando de canto de olho percebi que Edward parecia perdido em pensamentos. Eu até me assustei quando ouvi sua voz soar vários minutos depois. "Eu amo tocar. A música é a minha vida." Ele pausou franzindo o cenho "Mas isso não importa, certo?" Ele questionou parecendo ter uma conversa consigo mesmo.
Eu não precisei fazer mais perguntas. Edward simplesmente expôs sua vida para mim em um desabafo que partiu meu coração.
O sonho dele sempre foi cursar música, porém seus pais sempre foram contra. Edward vem de uma familia muito rica e eles já tinham seu futuro inteiro planejado. Ele se tornaria médico, assim como seus pais, e depois assumiria a clinica que eles possuem em São Francisco. Ele me contou que tentou mostrar a eles que não era isso o que queria para si, no entanto seus pais foram impassíveis. Ou ele fazia o que queriam ou ficaria sem ajuda financeira. Desanimado ele deixou a música de lado e nunca mais tocou.
Foi nesse dia que eu percebi o quanto Edward e eu temos em comum. No meu caso eu sofri bullying por ser diferente e estar fora dos padrões que a sociedade estipula como beleza, porém eu ainda tive o apoio dos meus pais e entes queridos. Edward sofreu bullying por querer ser diferente, por ter opinião própria e querer viver da maneira que escolheu. Seus proprios pais sabotaram seu sonho.
Ele não é feliz cursando biomedicina, não gosta dos amigos superficiais que seus pais acham certo para ele e das obrigações que seu sobrenome impõe.
"Eu estou cansado de sustentar a imagem de alguém que eu odeio ser." Ele confidenciou emocionado.
Naquela noite, depois que voltei ao meu quarto, eu chorei por ele e por mim. Eu me dei conta que Edward também tem suas inseguranças e que muitas vezes ele mantêm esse ar de confiança somente para não se deixar abater. Eu sei como é sentir-se assim. Fingir é dificil e cansativo.
Depois da nossa conversa eu praticamente implorei para que ele tocasse algo, nem que fosse somente uma nota. Ele atendeu meu pedido resmungando algo como "O que eu não faço por você me olhando desse jeito."
A partir desse dia sempre que eu podia aproveitava a oportunidade e olhava para ele da mesma maneira e pedia que tocasse algo. Depois de alguns dias tudo fluiu de forma natural. Eu nem precisava mais pedir. E foi assim que ele criou coragem para voltar a tocar.
Eu queria muito vê-lo tocar essa noite, mas estava com receio da aceitação de seus amigos. Edward me disse que eles fazem parte da banda a qual ele tocava ainda no colégio e vieram até Berkley especialmente para tocar com ele. Eles iam tocar em um barzinho perto do campus o qual já tinha ido com ele e meu irmão algumas vezes.
Eu queria estar lá por ele, mas e se seus amigos não gostarem de mim?
Acorda, Bella!
Essa noite não é sobre você! Faça isso por ele. Por ele.
"Eu estarei lá."
~ EEEA ~
Quando cheguei ao barzinho horas mais tarde e vi um sorriso lindo brotar nos lábios de Edward assim que me viu, eu decidi que já havia valido a pena enfrentar minha insegurança.
"Você veio." Ele disse e em seguida envolveu seus braços ao meu redor em um abraço apertado.
Eu aprendi também que Edward é extremamente afetuoso. Ele está sempre me abraçando ou então me beijando no rosto. Não que eu esteja reclamando, muito pelo contrário. Qualquer contato com ele me deixa feliz.
"Eu não podia perder o melhor show que essa cidade já teve." Eu olhei ao redor e vi que o lugar estava mais cheio do que de costume "Quando você ficar famoso pelo menos eu vou ter uma recordação..." Falei apontando para minha máquina fotográfica "E dizer que conheci o vocalista da banda." Edward revirou os olhos.
"Você sabe que eu não quero isso." Disse referindo-se a fama "Mas agora fiquei curioso para ver como você me enxerga através da lente."
Ele me contou que nunca teve o sonho de se tornar famoso com a música. O que ele queria de verdade era tornar-se professor de música e passar essa mesma paixão que senti para seus alunos.
Agora eu me pergunto... Tem como não se apaixonar?
"Vem. Eu quero te apresentar ao pessoal." Edward disse segurando minha mão na dele e nos guiou em direção ao palco. Do lado direito tinha uma porta que dava para os bastidores onde seus amigos estavam.
Fazem parte da banda o Seth, que toca baixo, Jasper na bateria e Alec na percussão. Edward na epoca tocava guitarra e era o vocalista e hoje assumiria sua posição novamente. Os rapazes me receberam muito bem e eu me senti confortável estando ali. Todos eram muito simples e carismáticos inclusive Alice, esposa do Jasper.
Ela me contou que eles são namorados desde o colégio e vivem juntos em São Francisco. Alice trabalha em uma galeria de artes como recepcionista e Jasper, além de tocar, trabalha como garçom no periodo em que não está tocando. Não vou negar e dizer que não me surpreendi com a estória deles, afinal temos a mesma idade e assumir um compromisso sério como esse é raro de se ver, mas bastou olhar para os dois juntos para perceber o quanto se gostam.
Jasper e Alice cresceram na mesma rua que Edward morava quando pequeno. Os três eram inseparavéis até que as responsabilidades surgiram. Alice me contou que seus pais foram contra o relacionamento dela e de Jasper só porque ele vinha de uma familia simples. Eu fiquei emocionada ao escutá-la contar que largou tudo para ficar com ele.
Quando chegou o momento deles tocarem todos foram para o palco enquanto Alice foi procurar uma mesa para sentarmos. Edward ainda estava ali, andando de um lado para o outro e passando a mão em seus cabelos. Eu me aproximei dele e fiz com que parasse em minha frente.
"Não fiquei nervoso. Você pode fazer isso de olhos fechados. Aproveita esse momento pra resgatar o amor que você tem pela música Edward. Não é porque você seguiu um caminho diferente que precisa deixar isso morrer dentro de si." Edward encarou meus olhos de uma forma intensa, como não havia feito antes.
Ele trouxe sua mão direita até meu rosto e o acariciou com suavidade. "Obrigada, Bella. Você não faz ideia do quanto é importante pra mim." Eu sorri.
"Eu sei o quanto é importante ter o apoio de alguém. As vezes apenas algumas palavras bastam." Edward sorriu e se aproximou do meu rosto.
"Não foram somente suas palavras que me trouxeram até aqui, Bella. Eu espero que um dia você esteja pronta para enxergar isso também." Ele sussurrou em meu ouvido e plantou um beijo em minha bochecha, caminhando em seguida em direção ao palco.
"Você não vem? Eles já vão começar e eu consegui uma mesa bem perto do palco!" Alice disse me assustando e só então me dei conta de que estava paralizada ali, me perguntando o que Diabos Edward quis dizer.