BELLA
Hoje dia quinze de fevereiro de 2010 é o dia da minha independência. Acordei a mil por hora e como de costume levantei para tomar banho e não passei nem perto do espelho do banheiro antes de lavar meu rosto, pois minha visão de cara amassada é péssima.
Após o banho refrescante enrolei a toalha no corpo passando a mão no espelho embaçado pelo vapor e olhei a imagem à minha frente. Uma mulher de cabelos repicados na altura dos ombros num tom de castanhos avermelhados, olhos castanhos chocolate com cílios longos, boca com traços delicados e pequena e pele branca que nem leite. Eu analisei cada detalhe do meu reflexo e tentei achar alguma mudança de quando ainda era pequena. Meus traços estão mais maduros e meu corpo com a silhueta perfeita.
- E então Isabella Marie Swan, pronta para os seus 18 anos? – eu murmurei ainda me olhando no espelho.
É claro que eu estava mais do que pronta afinal eu estava indo para faculdade! E o que isso significa? Liberdade total e mudanças de ares.
Eu sei que mudar de cidade e começar uma faculdade não é fácil, mas eu acredito e tenho fé que será melhor do que o ensino médio e viver em uma cidade pequena igual a Forks onde todos te conhecem e sabem da vida alheia.
Não posso mentir e dizer que não gosto daqui afinal minha familia está aqui e também meus amigos, pelos menos os que restaram, mas chegou o momento em que eu preciso deixar tudo isso para trás. Preciso me desgarrar da super proteção de meus pais, do mimo de meus avos, dos risos e fofocas dos meus inimigos e também de mim mesma. A antiga Bella ficará aqui.
Daí você se pergunta? Antiga Bella? Qual a diferença entre vocês duas?
Apenas a aparência.
Por anos sofri com problemas de obesidade. Meus pais achavam que era porque eu me alimentava de forma errada ou comia demais e nunca deram muita importância para isso até que meu excesso de peso tornou-se um problema de saúde. Descobrimos que eu tinha problemas hormonais e depois de alguns exames foi constatado a tireóide.
Foram anos sendo discriminada no colégio e nos lugares que eu frequentava, no entanto eu sempre procurei relevar e deixar para lá, até que eu conheci meu primeiro namorado. Ele foi a principal causa para que eu ganhasse força e coragem para tratar meu problema. De certa forma eu sou grata a ele, pois se não tivesse acontecido o que aconteceu eu ainda estaria com aquela aparência.
Exteriormente eu sou uma pessoa diferente, porem por dentro a Bella insegura ainda existe, por isso eu tomei a decisão de cursar uma faculdade longe de casa. Quanto mais longe daqui, menos lembranças eu terei.
Minha mãe após eu dar a noticia sobre a minha escolha quase teve uma sincope e está grudada em mim praticamente o tempo todo. Não é como se eu fosse ficar totalmente sozinha porque meu irmão Emmett já mora em Berkley a dois anos cursando Medicina, mas mãe é mãe, sempre com sua constatente preocupação com os filhos.
Minha viagem começou dali dois dias depois que comemoramos meu aniversário e eu escutar as milhões de recomendações que meus pais tinham.
Não aceite nada de estranhos.
Não fale com estranhos.
Tome muito cuidado na estrada.
Não esqueça de nos ligar todos os dias.
Só faltou falarem não beba, não fume e não faça sexo, mas meus pais são púdicos demais para isso.
Após me despedir e entrar no carro eu senti um frio na barriga aparecer e a ansiedade pelo inesperado tomar conta de mim. Olhando minha familia pelo espelho retrovisor acenando para mim, eu rezei para que tudo desse certo nessa nova etapa da minha vida.
Eu desejei que algo bom acontecesse e pudesse esquecer o que ficou para trás.
~ EEEA ~
A estrada até Berkley era tranquila e muito bem sinalizada, porém o trajeto era longe e resolvi dar uma parada para esticar as pernas e comer um lanche rápido. Eu parei em uma lanchonete próximo ao KM 86 e adorei o estilo anos 60 dela. Até mesmo a música era contagiante. Após fazer meu pedido mandei uma mensagem para meus pais dizendo onde estava após receber quase dez msm da minha mãe enlouquecida de preocupação.
"Com licença! Você vai usar o açucar?" Eu escutei uma voz masculina perguntar e levantei meus olhos do teclado do celular. Um rapaz da minha idade, talvez um pouco mais velho estava parado ali apontando para o pote de açucar.
Devo acrescentar que era um rapaz muito lindo por sinal. Ele estava vestido de forma bastante casual e seus traços do rosto marcantes igual aqueles modelos de revista em que dizemos "Uau!"
"Não. Pode ficar a vontade." Eu respondi intimidada pela sua beleza.
"Obrigada." Ele disse sorrindo fracamente e voltou para a mesa em que estava sentado.
Eu voltei minha atenção para o celular em minhas mãos e terminei de mandar a mensagem para minha mãe. Em seguida minha refeição chegou e eu tentei, juro que tentei manter minha atenção em minha salada e suco de laranja, mas foi inevitável não olhar em direção ao belo rapaz, e eu quase engasguei com a folha de alface que estava ingerindo quando percebi que ele estava olhando para mim.
Envergonhada por ser pega eu abaixei minha cabeça e olhei para o tomate em meu prato como se fosse a coisa mais importante do mundo.
"Você se importa se eu te fizer companhia?" Eu escutei a voz dele soar e de canto de olho percebi que ele estava parado ao lado da minha mesa.
Ai! Por que um rapaz lindo como ele quer fazer companhia para alguém como eu?
"Eu percebi que você também está sozinha e eu não sei você, mas eu detesto comer sozinho." Ele explicou parecendo ler meu pensamento.
Ok... Ele só quer uma companhia. Eu posso fazer isso. Lembre-se de que daqui para frente você estara aberta a praticar coisas novas.
"Claro. Eu adoraria ter uma companhia." Eu respondi sorrindo e ele logo sentou a minha frente depositando seu prato e xícara de café em cima da mesa.
Não me passou despercebido seu habito alimentar. No prato tinha um sanduiche enorme e batatas fritas sem contar que ele estava tomando café! Quem toma café quando está comendo lanche?
"A cafeina é a única coisa que consegue me manter em pé. Só com muito café para conseguir passar pela semana de provas e trabalhos extras na faculdade." Ele explicou provavelmente percebendo minha cara de desgosto.
"Eu só achei estranho. Normalmente as pessoas gostam de comer esse tipo de refeição com refrigerante ou suco." Falei enquanto observava ele morder o sanduiche.
"Você quer provar um pedaço?" Ele ofereceu ao perceber que eu estava encarando seu lanche e eu desviei o olhar mais uma vez envergonhada. Eu não vou mentir... Às vezes sinto tanta falta de comer essas bobeiras...
"Não. Obrigado." Falei engolindo mais algumas folhas de alface.
"Você mora aqui por perto ou está só de passagem?"
"Só de passagem. E você?"
"Também. Vim visitar alguns parentes. Atualmente eu moro em Berkley." Disse tomando um gole do café e meus olhos se entusiasmaram ao saber que ele mora por lá.
"Que coincidência! Eu estou indo para lá. Começo meu primeiro ano semana que vem." Ele riu do meu entusiasmo.
"Espero que mantenha esse entusiasmo quando chegar a semana de provas. Eu já perdi faz tempo."
"O que você está cursando?" Ele estava sendo muito simpático e eu fiquei curiosa para saber mais sobre ele, ainda mais porque estamos indo para o mesmo lugar.
"BioMedicina. E você?"
"Nutrição."
"Ah então é por isso que você olhou para o meu lanche com tanto desgosto?" Ele quis saber rindo levemente e percebi que toda vez que ele sorria uma covinha se formava em seu rosto.
"Na verdade o desgosto foi pelo café. E não... Eu não sou obcecada por alimentação saudável eu só... Preciso cuidar com o que como." Expliquei vagamente.
Nós ficamos em silêncio por um tempo até que terminamos nossas refeições. Ele foi até o caixa pagar a conta dele e eu esperei que ele voltasse para pagar a minha e pegar a estrada novamente.
"Você está pronta para ir?"
"Eu só vou pagar minha conta e..."
"Eu já paguei. Espero que não se importe. Considere como um agradecimento pela ótima companhia que você me fez." Ele disse puxando meu cadeira para que eu levantasse.
"Obrigado. Não precisava fazer isso. Eu também gostei de ter companhia." Falei sem jeito.
"Ótimo. Por que você terá minha companhia até Berkley." Disse enquanto saimos da lanchonete. "Você não se importa se eu seguir atrás de você, certo?"
Quem é que em sã consciência se importaria com um rapaz lindo igual a você te seguindo?
"Não. Eu não me importo... Mas se vamos viajar juntos talvez eu devesse saber seu nome?"
"Edward."
"Isabella, mas eu prefiro Bella."
Edward me acompanhou até meu carro e em seguida entrou no dele. Logo estavamos na estrada e a cada cinco minutos eu olhava pelo retrovisor traseiro, me certificando se ele ainda estava ali. Pode parecer bobeira, mas eu não ainda conseguia acreditar no que acontecera na ultima hora. Nunca ninguém puxou conversa comigo de forma expontânea. Nunca ninguém pagou uma refeição para mim ou foi gentil comigo se não fosse para fazer brincadeiras de mau gosto.
Olhando para o retrovisor uma vez mais eu sorri abertamente ao ver Edward fazer caretas engraçadas para mim. Ele demonstra ser tão seguro de si...
E eu desejei um dia conseguir ter a mesma segurança que ele.